by OrCa | Set 16, 2012 | Sem categoria |
NOTA PRÉVIA – Antes de qualquer outra consideração e sem qualquer cometário espúrio face à dimensão do acontecimento, aqui fica lavrado o testemunho da minha eufórica e feliz alegria pela assunção clara de cidadania que o dia 15 de Setembro de 2012 representou, em todo o território nacional e, até, nas diversificadas diásporas onde o povo português é e está e sabe ser!
Quando os Passos que nos caem em sorte se convencem que (des) governam um povo abúlico e perenemente desmotivado, dá os passos perdidos que sabemos. Um dia o tiro sai-lhes pela culatra e o arrepio de tão mau entendimento talvez já não seja viável.
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Em Coruche, pela mão de Ana Freitas e de um grupo de amigos maiores que o pensamento, no Café da Vila, no passado dia 14 de Setembro, fui alvo de homenagem – coisa sempre de deixar emocionalmente «arrumada» a mais empedernida das almas… Que dizer quando a alma em questão é tão atreita à «pieguice», que, pelos vistos, tanto incomoda quem se afasta dos caminhos dos afectos…
Nada faltou no desvelo com que fui tratado, tendo até sido presenteado, pela mestria de David Carrapo, com belos momentos musicais que, muito mais do que preencherem o tempo, deram alento ao início da tão agradável sessão que se seguiu.
A noite resolveu, também, ajudar à festa, brindando-nos com uma muito amena temperatura, convidando a que a esplanada do Café da Vila se arvorasse em plateia, bem preenchida, coisa sempre notável quando o tema é a poesia… e ainda para mais tratando-se de homenagem a este quase ilustre desconhecido.
O mote foi A Poesia – Outro Modo de Respirar, que Ana Freitas introduziu, com as seguintes palavras:
Sendo o respirar o acto primeiro e a prova de estarmos vivos, todos nós temos muito que respirar. No nosso percurso de vida, vamos escolhendo meios de o fazer, por exemplo, através da simples conversa ao debate organizado, ao exercício físico, do desenho à música, à pintura, da leitura à escrita.
Jorge Castro, o nosso homenageado, escolheu, e o seu muito talento assim lhe permite, muitas artes para respirar!
E foi dizendo de mim o que algum pudor me impede de reproduzir…
Logo mais, coube-me tentar retribuir tanto carinho, tendo recorrido a uma mão-cheia de marcos literários, que me ajudam a perceber alguns porquês do que vou fazendo nestas lides…
… e chamei à colação José Fanha, Urbano Tavares Rodrigues, Eugénio Lisboa, José Gomes Ferreira, Bertolt Brecht e, até, algumas peças da indústria, para melhor documentação de quantos me fizeram o favor de estar presentes para este simpático e envolvente abraço.
– Rosário Freitas
– Tomiça
– Augusta Santos
– Estefânia Estevens
– Carlos Gaspar
A nossa organizadora do evento, Ana Freitas, providenciou e caprichou tanto nos pormenores desta sessão que se lembrou até de fazer anos nesse mesmo dia, ao que lhe retribuíram com várias merecidas surpresas.
No intervalo para a segunda «rodada», David Carrapo ofereceu-nos nova ponte musical.
– Como há sempre coincidências na vida, por mais que delas nos queiramos alhear, não é que dou com essa singularidade de o edifício onde se encontra localizado o Café da Vila se denominar Edifício Orca? Ele há coisas do arco da velha!
– Rosa Pais
– Alzira Carrilho
– Francisco José Lampreia
– Maria Augusta Ambrósio
– Palmira Gaspar
– Isilda Gagueja
– Idália Silva
– Arlindo Pirralho
– Ernesto Fonseca
– Joaquim Laranjo
– Gracinda Maia
E não foram poucos os remoques e alusões que este cordão de poetas lançou aos desconchavos do desviver a que tanto (des)governante nos quer obrigar, sem acautelar saberes e sentires, enfim outros modos de respirar dos cidadãos que enformam a nação que somos, numa demonstração inequívoca de que a pacatez do povo não é sinónimo de falta de atenção, espírito crítico e capacidade de mobilização, como, aliás, os acontecimentos do dia 15 tão bem revelaram.
E Ana Freitas encerrou o evento. Cordial, simpático, motivador… sei lá como adjectivar mais sem cair no risco de me arvorar em juiz em causa própria. Olhem, é como sempre digo: tivessem ido e logo veriam! E Coruche, em querendo, terá também longevidade a destacar em sessões poéticas. Os dados estão mais do que lançados.
Foi bonita a festa, pá, estamos contentes… e tanto que ainda se encontrou ímpeto para rematar a noite em mais folias, com o excelente pretexto da recomemoração do aniversário de Ana Freitas, que juntou a todo o empenho na organização desta pequena-grande efeméride, os seus dotes de óptima anfitriã. Chá e vinho do Porto, bolos confeccionados com mil afectos… Mais palavras para quê?
Estou em crer que é muito por falta disto que os Sócrates, os Coelhos e outros Gaspares são como são, agem como agem e secam tudo em seu redor. Falta-lhes muito o viver a vida com outros modos de respirar.
– Fotografias de Lourdes Calmeiro
by OrCa | Abr 24, 2012 | Sem categoria |
Por nós, pela memória de José Afonso, estaremos no 25 de Abril com um cravo feito de poemas na Calçada do Combro, em Lisboa, pelas 19 horas, no Mini Teatro da Calçada.
Venham daí! E sigam o preceito solidário que a canção aconselha: tragam um amigo, também!
Foi em 25 de Abril de 1974. Lembram-se? Uma brisa só foi capaz de afastar a névoa mais densa. Mas uma brisa de vontade, de constância, de coragem. E todos os medos redescobriram que, afinal, em cada dia uma alvorada desponta e saíram, por fim, à rua numa ânsia imparável de Liberdade, solidários, numa corrente feita de seres humanos, maré alta na cidade.
Uma coragem nascida da ansiedade e receios mal contidos, mas de cravo ao peito e uma nova alma na voz, derramou na urbe um mar de gente vitoriando os «capitães de Abril» e, nesse inquantificável momento cósmico, Portugal renasceu… e todos nós com ele!
E aos que criticam, hoje, os militares de Abril por não comparecerem nos «festejos oficiais» de um Abril espartilhado pelos interesses reinantes, a esses gostaria de lembrar que nem essa comparência terá estatuto obrigatório – pois seria inequívoco tique ditatorial – nem ninguém de coluna vertebral íntegra está impedido de manifestar a sua discordância pelo actual estado da nação do modo que tiver por mais adequado. Senão, cabe aqui questionar o que muitos vão questionando: então, que raio de liberdade é esta?
by OrCa | Dez 23, 2011 | Sem categoria |
era uma vez…
um natal feito desgraça
tão sem graça
a meio gás
sem luz nem riso na praça
às ordens do capataz
sem se iluminar a noite
com tudo o que nos apraz
sem coragem que se afoite
por raiva
amor
ou objecto
de saber que se é capaz
de dar brado e colher eco
cada um sob o seu tecto
mas irmanados na paz
era uma vez…
um natal de tal vergonha
dessa coisa vil
medonha
de não erguermos a voz
contra mantos de negrume
ou solitário azedume
sem vontade que se arrume
por não sabermos de nós…
e tudo era o que só era
sem apurarmos porém
que o amanhã está à espera
do dia que já lá vem…
não fiques então à espera
pois quem espera desespera
seja cá
seja em Belém
talvez se unirmos a voz
um ao outro
sem temores
seja o Natal mais de nós
e não de um outro qualquer
mais nosso
com mais valores
e será de mais amores
sempre que um homem quiser.
– Jorge Castro… Sendo esta a mensagem de Natal que me apetece deixar a quem por aqui passar.
by OrCa | Abr 24, 2011 | Sem categoria |
Mais Abril, sim, de referências. Abril desse orgulho de se tomar em nossas mãos o destino, hasteando bandeiras de Liberdade – essa mesma, a que se escreve com maiúscula, no tempo e no modo!
– … Era a manhã imatura de neblinas de 25 de Abril de 1974. Nas mãos trementes, uma máquina fotográfica Voightlander, com filme de 36 fotografias, a preto e branco; mas no coração ganhava alento uma aventura de mil arco íris. Com 25 de Abril, sempre!
quando Abril chega mais perto
cansa o viver de joelhos
neste tempo sempre incerto
de secar cravos vermelhos
no presente enclausurado
sem golpe de asa que o fira
vive um povo amortalhado
nos pântanos da mentira
na tristeza triste infinda
do país onde me perco
quantos se lembram ainda
da flor nascida no esterco?
a nossa raiz de esperança
que em tempos de solidão
na noite mais triste lança
a sua voz que diz NÃO!
não ao inglório viver
não ao pasmo não à fome
não a um futuro sem ser
não a um povo sem nome
triste foi Pedro soldado
sem barcos e já sem guerra
desfeito o nome bordado
mas dando o seu nome à terra
terra de uma flor ridente
das portas que Abril abriu
soldado poeta gente
flor de mãos que aí floriu
erguida por mãos libertas
noutro sonho noutro dia
tantas novas descobertas
de outra cor de outra harmonia
e lá vem sempre outro Abril
um combate outra vontade
outra cor no céu de anil
que anuncia a liberdade
por Abril por mim por ti
Abril maior mundo afora
e ser português aqui
por ser português agora!
– Fotografia e poema de Jorge Castro