Um testemunho

De um testemunho no Facebook…

Já visitei a Venezuela e Cuba. Mas, esta tarde, visitei, pela primeira vez, um país do terceiro mundo. Eu conduzia pela via de acesso ao IC19 quando observei dois homens que seguiam junto ao rail vindos do Hospital Amadora-Sintra. O mais novo aparentava 45 anos e tinha a cara tostada pelo sol. O mais velho devia ter cerca de 80 anos e trazia um dreno ensanguentado junto à cintura. O filho trazia o pai que havia tido um AVC e uma infecção urinária. Ficaram na Brandoa. Foi onde os deixei depois de ter decidido dar-lhes boleia. Não tinham dinheiro para o transporte de ambulância. Durante a viagem, envergonhado, o filho concordou comigo. Este é o país em que os donos dos bancos e das grandes empresas enchem os bolsos através da humilhação dos trabalhadores e dos reformados. O velho mal se compreendia. Muito cansado tentava comentar com muita dificuldade o que se dizia. Mas houve um momento em que encheu a voz de força e rematou: “É preciso um novo 25 de Abril”. Respondi-lhe, então, que se o havia que repetir que fosse sem cravos. Pelo espelho retrovisor, vi-lhe o sorriso. Não sei o que lhe passava pela cabeça. Mas, na minha, vi o nosso povo unido esmagar os que assim tratam os que sacrificaram o melhor das suas vidas pela felicidade de outros. E sorri-lhe de volta.

a propósito de orçamentos criminosos…

Poderá haver aqui conceitos que carecem de segunda análise mas, ainda assim, há aqui também matéria de reflexão. Se calhar, profunda:
Coloquem os idosos nas prisões para que recebam um banho por dia, vigilância de vídeo em caso de problemas, três refeições por dia, acesso a uma biblioteca, computador, TV, ginásio…
Coloquem os criminosos em casas de repouso para que recebam refeições frias, luzes apagadas às 20h, um banho por semana, vivam numa sala diminuta e paguem 400 euros por mês.
Que tipo de tratamento é que, com os avanços civilizacionais e bem vistas as coisas, estamos a proporcionar aos nossos idosos e aos criminosos? 

do Natal que nós fizermos

Amizades,
Cá somos chegados a mais uma época natalícia. Ou, se melhor quisermos, a uma nova celebração do solstício de inverno, onde tudo e todos se aprestam a um novo recomeço ou ao eterno retorno da espiral de Vida onde vamos viajando…

Do novo ano, quando ele findar, queremos esperar que, apesar das incertezas e, porventura ainda mais, das certezas – que sabemos, entretanto, sempre efémeras – nos deixe saudades e felizes recordações.

No fundo e pelo meio da conversa abstrusa da desesperança que nos é «vendida» por tão elevado preço, que nos fique a garantia de sermos quem somos. E isso, como é óbvio, depende muito de cada um de nós.

O meu contributo para esta comemoração do solstício aí vai. Fiz-me acompanhar pelo grupo mirandês Trasga, com o seu tema Al Absedo… – e para quem melhor quiser apurar o sentido da coisa, sempre lhes digo que «l absedo ye ua lhadeira birada a norte, adonde, ne ls meses de ambierno, nun bate l sol. Yé ne l absedo que nácen i se dan melhor ls buxos, ls anguelgues e las urzes, madeiras que prodúzen un eicelente sonido e con que son construídos ls strumentos musicales ousados por Trasga»:

Jorge Castro – Natal de 2012
(ficheiro de som – mp3)

Com um forte abraço, os meus votos de boas festas, então. E um ano 2013 memorável e, se possível, pelas melhores razões.

Oscar Niemeyer

Nasceu em 15 de Dezembro de 1907. Morreu no dia 05 de Dezembro de 2012.
Passou pelo mundo todo por «retas e curvas entrelaçadas», que foi seu legado.

Um homem só e, no entanto, o  bater de asas da sua vida agitou  esse mundo todo. Um homem só, então, que se fez em multidão.

Não cairei no lugar comum de afirmar que o mundo nos ficou mais pobre, porque, afinal e bem vistas as coisas, ele deixou-nos esse mundo todo muito mais enriquecido!
– Fotografia obtida aqui

Autodefinição

Na folha branca de papel faço o meu risco.
Retas e curvas entrelaçadas.
E prossigo atento e tudo arrisco na procura das formas desejadas.
São templos e palácios soltos pelo ar, pássaros alados, o que você quiser.
Mas se os olhar um pouco devagar, encontrará, em todos,
os encantos da mulher.
Deixo de lado o sonho que sonhava.
A miséria do mundo me revolta.
Quero pouco, muito pouco, quase nada.
A arquitetura que faço não importa.
O que eu quero é a pobreza superada,
a vida mais feliz, a pátria mais amada.

Oscar Niemeyer