Sabugal e conselhos que eu vos poderia dar…

Poderia recomendar-vos o apaziguante exercício de desenhações mais ou menos afeiçoadas…
Poderia recomendar-vos o contacto com quem sabe mais da povoação, da sua História e das suas gentes e costumes…

Poderia falar-vos do «castelo das cinco quinas», curiosidade arquitectónica que acompanha a sua relevância histórica…

Poderia alertar-vos para o inusitado de realidades que alguns quiseram (querem?) esconder…

Poderia desvendar-vos as delícias de um guisado de veado, regado com excelente reserva da Quinta dos Termos…

Poderia, também, falar-vos de uma fritada de trutas fresquíssimas acompanhada por sabores da terra…

Poderia referir-vos que, para quem queira, pode tentar pescar as suas próprias trutas, dando outro valor ao alimento… 

Poderia dissertar-vos sobre vestígios ancestrais tão mal tratados, quando não ignorados, e que, afinal, nos conferem uma transcendência e longevidade, enquanto povo, de que poucos poderão orgulhar-se…

Poderia aprimorar a conversa referindo velhas tradições reabilitadas…

Poderia, mesmo, indicar-vos caminhos ou rotas dominantes…

Poderia falar-vos das coisas mais simples que o Sol ilumina para nosso deleite…

Poderia dizer-vos dos doces sabores campestres…

Poderia louvar o prazer do pão quente pela manhã…

Poderia, outrossim, falar tão-só de aspectos elementares da vida… 

Poderia citar-vos uma calçada improvável…

Poderia recitar-vos a epopeia gigantesca de uma sequóia em terra lusa, cujo tamanho comove…

Poderia indicar-vos um castanheiro que nasceu no ano de 940…

Poderia alongar-me por lugares misteriosos…

Poderia chamar-vos a atenção para os seres mais simples…

Poderia apelar aos vossos sentidos com a ajuda da Mãe Natureza…

Poderia aconselhar-vos a audição de um açude rumorejante…

Poderia embalar-vos num enredo de fim de tarde…

Poderia apaziguar-vos com a tranquilidade das águas…

Mas não. Quem sou eu para dar conselhos?
Digo-vos apenas para irem até lá. Façam da nossa terra nas suas múltiplas facetas o vosso prazer maior dos sentidos. Viajem sempre neste nosso tão fora cá dentro… 

sugestão de férias

Com edição da Levoir, S.A. e comercialização do jornal Público, aconselho a leitura deste livro:

Criatividade, originalidade, ainda que assumidamente sustentada em fontes da nossa literatura de antanho, sensualidade, erotismo, crueza, Jorge de Sena proporcionou-me (mais) um encantamento de leitura, que muito recomendo – bem entendido, a quem não conheça a obra (como era o meu caso).
Trata-se de um daqueles livros que inspira poesia, pintura, cinema… eu sei lá que mais. E numa ambiência que Jorge de Sena teve artes de criar e com a qual me senti inexplicavelmente identificado. E nisso reside, para mim, muita da arte do autor nesta obra.
No Físico Prodigioso parte-se, durante e após a sua leitura, para uma cavalgada – necessariamente gloriosa – pelos caminhos da imaginação e do mistério, coisas ambas que contrariam o cinzentismo pasmacento em que (sobre)vivemos..