sim, sim,vou indo de férias…

… ou em gozo de licença anual, que sempre é menos metafórico. 
Por terras de Miranda do Douro já fui. Assim, aqui fica um cheirinho, meio de partilha e outro tanto de causar inveja. Entre o sagrado e o profano, um olhar cheio e uma boa parte do espírito redimida com o mundo.  

Até já, que, agora, eu vou ali mas já volto!

boas leituras de férias

Assim mesmo! Simples e directo e de uma beleza infinita. 
Obra da autoria de Adelino Gouveia, José Leite e Rui Dantas, com edição da ACRC – Associação dos Criadores da Raça Cachena (Rua Prof. Dr. José S. Silva, nº 29 – cave – Casalsoeiro – Vila Fonche – 4970-745 ARCOS DE VALDEVEZ – telefone/fax 258523137). Peçam um exemplar que não ficarão arrependidos!
Um tesouro português pouco conhecido, aqui magnificamente ilustrado e com um sublime acompanhamento de textos seleccionados de muitos nomes grandes da nossa literatura, como Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes, Cesário Verde, Afonso Lopes Vieira, Luís de Camões e por aí fora… 
Os autores também não se perderam, deixando-nos sucintos mas ilustrativos momentos de prosa onde, com o apoio das referidas imagens, nos dão a conhecer, eu diria, sublinhando, com uma poesia e uma graça tais que nem damos pelo livro passar.
Ficou-me a vontade urgente de subir ao Gerês em busca daqueles belíssimos animais, em seu ambiente natural, e de tanto tempo nosso e tão próximo que vamos deixando, estupidamente, cair no esquecimento. 
Graças aos autores, que nos lembram que ainda estamos vivos e, estranhamente (ou talvez não…), tão cheios de razões para viver enquanto povo e orgulhosamente.   

dizer tudo, sim, mas sempre com um ar sério…

Se eu vos disser, com um ar tão sério que mete dó, que, desde as mais recentes declarações do Sr. Silva e do Sr. Coelho o mundo começou a girar ao contrário, vocês acreditam? 
Se eu vos disser, com o mesmo ar seríissimo, que só votando a fazer o pino é que os «merklados» terão fé nas nossas possibilidades, vocês acreditam?
Se eu vos disser, mas tão sério que as pedrinhas da calçada se comoverão, que o Pai Natal, afinal, existe e neste Natal descerá à terra para oferecer a ponta de um corno (de rena, claro) a cada português, vocês acreditam? 

a Maria Barroso – Liberdade

(Com os meus agradecimentos à queridíssima SGA)

Nos anos 60, aí por 66, durante uma reunião de estudantes do Santa Maria, a pide prendeu Maria Barroso e proibiu-a de falar. Não podendo falar, enquanto a levavam, ela gritou este poema:

Liberdade
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim, só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

Armindo Rodrigues, in Voz Arremessada ao Caminho, 1943

da Grécia a Portugal sobra-nos mar

– Já cá se sabe que um poema não muda nada, é como respirar, que pouco muda. No entanto, por isso vivemos e somos. E dos nossos «governantes» nem direi que envergonham, pois estaria a gerir expectativas que nem tenho. Antes mesmo de saber, então, qual o resultado do próximo referendo na Grécia, aqui deixo o meu voto: 

da Grécia a Portugal sobra-nos mar
entre extremos de uma Europa perturbada
e se Homero fez divino o ser humano
já Camões diz da pátria sua amada

esse mar que nos une e acrescenta
que é helénico e também é lusitano
e que pode ser de glória a mais violenta
um abraço que é de Sol – um tudo ou nada

já o Zeus do Olimpo brande o raio
Endovélico – ar e fogo – vem à liça
que um povo não se fez p’ra ser lacaio
de quem vive da usura e da injustiça

mesmo quando em seu seio a vil traição
mascarada e vil e vil e mascarada
nos disser que há mais ventos de feição
que nos honre a nossa voz – gume de espada –

decepando as mentiras mais hediondas
chegará de Pérgamo a tempestade
ou de Sagres no ribombo de altas ondas
o mar alto onde vive a liberdade.

– Jorge Castro
02 de Julho de 2015