a orfandade nas praias

É um «fenómeno» que cresce a olhos vistos na praia de Carcavelos. Mal chega o Verão e centenas (se não milhares) de camionetas de passageiros despejam milhares (se não dezenas de milhares) de crianças, de proveniências as mais desvairadas, no areal desta praia.
Presumo negócio chorudo. Pais pouco vocacionados para o serem, seja por (de)formação e/ou desinteresse pessoal, seja por imperativos do emprego-nosso-de-cada-dia entregam a prole a umas organizações estranhas que passam as manhãs ou as tardes a invadirem a praia com meninos e meninas todos verdes, ou todos vermelhos, ou todos amarelos, ou todos azuis…
E – vá lá saber-se porquê… – aqueles grupos, muito encarreirados, muito encarneirados, enquadrados por um ou dois latagões e duas ou três meninas vestidas da mesma cor, que brincam formatadamente na areia e tomam o seu banho de mar em pacote, provocam-me uma profunda impressão e auguram-me que o futuro não parece nada risonho com exemplos destes.  
Também assisto, nas poucas vezes em que tenho oportunidade para pôr na areia o meu pé, a exemplos de grandíssima falta de preparação daqueles acompanhantes que, por exemplo, promovem o assalto e mortandade a tudo que é rochedos (e são tão poucos), à cata da pocinha e de quanta fauna lá possa resistir.
Ainda há dois dias foi isto: apesar da praia ainda estar desimpedida, foi exactamente no leito da ribeira  que desagua na praia, conspurcado de tudo e permanentemente revolvido por máquinas que diariamente (grande negócio!) atacam, vai para alguns anos, já, o areal com intuitos que não lembrarão ao Diabo, que os «orientadores» consideraram ser o melhor local para depositar as criancinhas para as suas brincadeiras na areia. Será que informaram os pais? Será que colocariam ali os próprios filhos? Se calhar, sim. E é isso o que me entristece, com tanto areal livre, senhores.

Verdade seja que o tempo nem estava muito balnear, mas o negócio fala mais alto e ir à praia é bom para a saúde, diz-se…
Será que alguém controla esta florescente actividade, que dá tanto jeito para a sobrevivência das empresas de camionagem? Quero eu dizer com isto, por exemplo, que tenho cá as minhas dúvidas quanto a que, das importâncias que os paizinhos desembolsem para formatar assim as suas crianças, alguém passe recibo. Passará? Não me digam que são borlas… 

Medalha de Ouro de Mérito Cultural (CM Lisboa)
atribuída a José Meco

Aqui se dá conhecimento, com regozijo, da atribuição da Medalha de Ouro de Mérito Cultural atribuída ao professor José Meco, ilustríssimo companheiro da EMACO – Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras:
Muitos parabéns, José Meco! A Espaço e Memória congratula-se pelo reconhecimento público do elevado mérito cultural e pelo prémio atribuído ao Prof. José Meco, pela Câmara Municipal de Lisboa – a Medalha de Ouro de Mérito Cultural.
EMACO
MEMÓRIA DE SÍTIO COM AZULEJOS E UM ABRAÇO FRATERNAL A JOSÉ MECO. 
Só podemos congratular-nos com o sucesso científico e profissional de José Meco, «o bom gigante da História da Arte». Ao ser condecorado com a Medalha Municipal de Mérito Cultural de Ouro, só posso dizer que ele bem o merece, tanto pela sua obra pioneira, como pela defesa das suas causas de sempre em prol do Azulejo e das artes nacionais, como ainda pela sua postura humana e fraterna, sempre aberto a intervir e a ‘patrimonializar’, com tudo e todos, em prol dos saberes da cultura portuguesa… Já agora, a exposição por si comissariada no Museu de Lisboa, FRAGMENTOS DE COR, também merece ser visitada ! 
Vitor Serrão



reflexão para o dia da criança
escola privada – público esbulho


que gestores e pais sem escrúpulos se destrambelham na mobilização de crianças
para manifestações de carácter absolutamente político, falacioso e oportunista, julgo ter também o
direito de aqui lavrar alguns comentários a propósito:

Com que então, se me apetecer andar num ferrari,
o estado tem a pouca vergonha de NÃO me atribuir um subsidiozito para o efeito?
Parece impossível! Isto já não há liberdade de escolha para um cidadão, mesmo
que se vista de amarelo! Isto é, sem margem para dúvidas, um claro ataque aos meus
mais elementares direitos! E, quem sabe, aos meus esquerdos, também…
Bom,
como tem sido largamente difundido pelas televisões, é de vómito o argumentário
dos queques defensores do ensino privado às custas dos impostos de todos.
Apetece-me
sempre, nestas ocasiões, atirar-lhes para o colo com o cadáver de uma das inúmeras
crianças mortas por afogamento no Mediterrâneo, por um lado porque isto anda
tudo ligado e, por outro, apenas para apurarem qual o possível sentido da vida
e da sua concomitante relatividade.
Um
único argumento, entretanto, prevalece, subliminarmente escondido naquele
argumentário: não temos pago, não pagamos
e não queremos pagar! Mas queremos usufruir.
E insistem os gestores dessas escolas privadas e alguns dos papás dos meninos compulsivamente
de amarelo: não nos apetece, pois, abdicar do inalienável direito de acharmos
melhor que os nossos filhos usufruam de condições a que a grande parte das
demais crianças não tem acesso
– lá nos vão dizendo estas atrabiliárias
criaturas… – e estamo-nos nas tintas para isso e para vocês! Mas queremos que
nos paguem, pronto!
Assim,
sim, se vê o quão socialmente solidárias são estas bizarras criaturas. E espertas
que elas são, que ele, o chico-espertismo, pelos vistos campeia sem freios nestas
hostes.    
– Grande lata! Então, paga-a, porra!
Não queres, antes e por exemplo, ó palerma, discutir a vida dos alunos cujos pais não têm dinheiro para os alimentar e cuja única refeição é obtida na cantina da escola?

o narciso engravatado que escreve, piscando o olho

Sou um adepto incondicional da liberdade, nas suas infinitas manifestações, atitude que tento acompanhar sempre com um incontornável direito que cada um deve ter em assumir as consequências do exercício dessa mesma liberdade… de preferência num estado de direito e democrático – o que podendo parecer redundante, nem o é tanto.
Daí que o meu sorriso se alargue até às orelhas (honni soit…) ao deparar com estas parangonas recentemente aparecidas em milagroso mês de Maio:
– «Como não há os livros que gostaria de ler, escrevo-os eu»
Não haverá por aí ninguém que, parafraseando o conceito e não aturando este JRS, se disponha a fazer rapidamente outro? 
Dirá algum leitor mais objectivo que o dito se articulava com a saga a que o televisivo autor lançou mãos. Mas o certo é que quando ele diz que a sua trilogia é uma saga e que tal conceito não está desbravado em Portugal, omite duas elementares e gritantes sagas: uma, o lê-lo; outra, o aturar-lhe as piscadelas de olho… Por mim, confesso, chego a ter pesadelos! Mas tal deve-se, decerto, a problema meu e muito pessoal.
Já o dizerem-se dislates (in http://www.dn.pt/artes/interior/jose-rodrigues-dos-santos-o-fascismo-tem-origem-marxista-5189844.html) do calibre de «o fascismo é um movimento que tem origem marxista» ou, logo depois, que «o nazismo é inspirado em ideias muito populares nas democracias ocidentais…» e até o Carnegie Institute, em 1911, nos EUA, ter proposto  «que se matassem os deficientes em câmaras de gás», pelo que «os nazis nada inventaram», me provoca explosões de anti-corpos, pela incomensurabilidade da demagogia, absolutamente estúpida ou, pior, deliberadamente provocatória.
Enfim, resta-me a consolação de saber que os narcisos, férteis em terrenos pantanosos, são de existência breve e rapidamente se transformam em húmus da terra. 

para hoje, ainda a tempo

Apenas para relembrar: hoje, às 18h30, no Auditório do IHRU, organizado pela sua ACD, lançamento do primeiro livro de poesia “O Pica-Orelhas” (Caleidoscópio, 2016), 
de Fernando Pereira Alves. 
Vão estar presentes três poetas: Jorge Castro, Teresa Machado e Carlos Fernando Marques. 
Editor: Jorge Ferreira. Moderador: Vítor Graça. Metro: Praça de Espanha. Local: Avenida de Columbano Bordalo Pinheiro, n.º 5. 
Será servido um porto de honra.

apreciando a obra fotográfica de Jorge Bacelar
Gente Marinhoa

Uma recomendação muito séria: visitem a obra de Jorge Bacelar, a quem tive o ensejo de conhecer em exposição fotográfica patente na Associação 25 de Abril. 
Do que me sugeriu, emocionadamente, o seu olhar, tento repercutir sensações em forma de poema…

Mas comprovem o que digo visitando-o em:

RURALIDADES

era um espanta-aves o menino-ave no alto da árvore
e era um verde-mar naquele solto olhar do alto da vida
e ouve-se o riso de quem nos abraça de lá da vidraça
de teias de aranha e de mãos gravadas com sulcos de mar
e um crucifixo gravava o início da lide do dia
na parede escura onde se amanhava uma luz da rua

eram mil sorrisos no saco-capuz daquele contraluz
que coava a vida enquanto soava uma melodia
do boi que mugia da ovelha o balido e o cão que latia
na suave carícia que sulca em delícia um raio de luz
e era o bulício do constante início do árduo labor
de quem lavra o mar e a terra lavrada com o mesmo suor

uma bigodaça e o tempo que passa no abraço do vento
e um afago agreste mas doce que reste e que empreste amor
de rugas lavradas ao som de uma enxada que é já firmamento
tão rubra da seiva que deixa na lavra um rasto de flor

e um galo castiço trazendo o derriço da sua plumagem
no quadriculado onde um outro gato tecia dormências
ao colo do olhar tão feito de mar e torna-viagem
que nem esse mar nos seja capaz de tais abrangências

talvez uma fonte de risos de sonhos e de mãos calosas
nos dê o calor de sermos o ardor de cravos e rosas…

– Jorge Castro
19 de Maio de 2016