Dizem-me que houve, há dias, o dia do beijo. Ora, para o bem de nós, é melhor que nos beijemos sempre que apetecer.

E, por falar nisso, preparando uma sessão em que estarei, hoje, envolvido, tropecei com este meu poema, que vos deixo, e que já conta com uns anitos de ver a luz do dia. Espero que ele vos estimule o dia…

beijo

vês?
chegámos de novo a Abril
e os teus olhos abrem-me sempre novas madrugadas
os teus seios de oferendas
mil ensejos
mil moradas

o teu ventre abre-se em flor
e cruzas o tempo
na promessa de um prazer que é quase dor
ou quase sede
de que abusas

e a tua pele quando me acolhe
de veludo a maciez
mas quase ardência
nessa urgência em que eu pare
e p’ra ti olhe
e ao de leve te pressinta
uma premência
de ti um fremir quase ventura
que estremece
porque tanto me apetece
dos teus lábios a suave comissura

a minha língua toca-a levemente
e os teus lábios recebem-me
e desenham-se em sorriso
e afogam-me
e bebem-me
sem aviso
e o tempo voa assim
sem dor
nem hora
porque é feito de Abril
o que em nós mora.

  • Jorge Castro
    22 de Abril de 2010