não há bolha que me valha
nem marquise que me aflija
nem o fio da navalha
apara só barba rija
pelo ar vão perdigotos
da nossa boca e nariz
uns mais tristes outros rotos
filhos da mesma perdiz
mas se uns tossem baixinho
não querendo incomodar
há quem tussa no vizinho
e há quem tussa pró ar
somos grandes somos lindos
somos país tal e qual
Portugal sonhos infindos
cheios de etc e tal
ah quem me dera quem dera
ao menos o prometido
como quem fica à espera
do ouro de algum bandido
as três sílabas de O’Neill
quanto jeito dão agora
se nos virmos de perfil
só singramos bem lá fora
povo bom e povo inteiro
assim meio a dar pró torto
as mais das vezes carneiro
outras carneiro mal morto
futebóis oh futebóis
somos de causar inveja
num prato de caracóis
bem regadinho a cerveja
amarfanhados de impostos
pelo mau fado de um fado
temos por consolo os gostos
num “face” mal amanhado
quanto ao mais haja saúde
paz e amor em lume brando
tangendo algum alaúde
lá vamos… de vez em quando
ah mas um dia isto vira
ah mas um dia isto muda
surge algum vate de lira
vai ser um deus-nos-acuda!
- Jorge Castro
em Maio chegando ao fim, pim!