Tenho um empenho antigo em Banda Desenhada. Nada difícil de explicar a quem partilhe este mesmo interesse, ainda que algo estranho para o resto do mundo, posso admitir.

Mas, por esse empenho, foi com alguma expectativa que acolhi o anúncio do lançamento, no passado mês de Março, de uma enorme (82 volumes) edição do Príncipe Valente sob patrocínio da Planeta deAgostini. Ei-la, com direito a publicidade gratuita e tudo.

Durou-me pouco o entusiasmo, pois logo após a aquisição do primeiro número tropecei com a seguinte informação:

«A Planeta deAgostini está a distribuir em Portugal a Colecção “Príncipe Valente” em português do Brasil, já a partir deste mês de Março.» (O itálico é meu).

Eu nem sei se é pela existência e pelas alegadas justificações do desconchavado «Acordo Ortográfico» que sempre me pareceu ser uma cedência envergonhada (e vergonhosa) ao tal «português do Brasil», que se me esverdeou mais a bílis…

Mas, em Portugal, berço da língua portuguesa, lançar uma publicação desta envergadura em «português do Brasil» levanta-me, de imediato e entre várias outras, uma pequena e mesquinha questão: quantas publicações já foram lançadas, no Brasil, pela Planeta deAgostini em português de Portugal?

Esta questão – que alguns rotularão apressadamente de xenófoba, sem que isso me preocupe, aliás – prende-se com aquela outra da existência de diversos repórteres de exteriores, nomeadamente da SIC, que, sendo cidadãos brasileiros, ostentam orgulhosamente o seu sotaque, mais ou menos cerrado, na produção de informação, ocasional, embora, mas em horário nobre.

Aqui, a questão que se me coloca – obviamente com a mesma dimensão de mesquinhês da anterior – é a seguinte: porque não ouço algum sotaque nortenho ou o alentejano ou, ainda, o mirandês – este por maioria de razão e direitos de cidadania, se assim se pode colocar a coisa… – nesta mesma estação televisiva?

Será que estamos em presença de um assumido movimento colonizador ou é apenas a mera parolice do costume, de subserviência perante «o que é de fora»? Tendo a considerar que se trata de uma mistura de ambos os componentes, em que ressalta a força do poder económica sobre tudo e sobre todos, onde as «quintas colunas» desempenham o seu papel do costume?

(Alguém se lembra, ainda, do que eram as «quintas colunas»? Eis mais uma prova de como estou a ficar antigo…)