Com um profundo agradecimento e devida vénia a Luísa Alves, geóloga, professora e tudo, partilho convosco um passeio que me foi proporcionado à terra das pedras que pisamos tantas vezes sem dar por elas e que realizei há poucos dias… Trecho breve, na relatividade das coisas, de Carcavelos à Lagoa Azul de Sintra, passando pela Praia da Poça e pelo Guincho de Cascais, tive, então, a oportunidade de olhar para aquilo que tantas vezes não vi, na passagem constante do tempo e nessa visão fugaz e sem tempo daquilo que nos rodeia.

Aqui e ali, a vida animal ou vegetal colocou-se à disposição do nosso olhar agora desperto, como partilhando cumplicidades ou, enfim, premiando a nossa atenção geralmente dispersa na espuma dos dias.

  

  

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aqui e ali um inusitado amontoado de conchas, apertado por sedimento solidificado, depois um filão diverso atravessando o usual calcário, um chão construído pejado de fósseis, desgastado pelas nossas passadas descuidadas e pelo mar, um corte aprumado, de desmesura, na rocha, porventura criado por titãs, uma duna com pés de areia solta, as pedras que o tempo afeiçoa e molda, os líquenes que as recobrem, o musgo que ali se instala… E, pelo meio de tudo, a ave, o réptil, o insecto, teimosamente todos afirmando a sua existência aos nossos olhos embotados de cimento e tráfego, no dizer de Chico Buarque.

Poderia ter legendado cada imagem. Mas considerei que isso não acrescentaria, neste caso, valor ao enredo. O silêncio ouve-se melhor em silêncio.

E, como é bom de ver, tudo se encontra à distância breve do nosso olhar e encontra-se ali há tanto tempo que chega a parecer impossível que os passos dados não atentem nisso, sendo sempre necessário que alguém, numa boa hora, faça tocar a rebate a nossa atenção. Bem haja, então, quem assim o faz por bem tão bem.

  • Fotografias de Jorge Castro