Das alterações climatéricas cada um se vai dando conta. Dos desvarios urbanos em carência extrema de zonas verdes e de mais ou menos frondosas árvores, também.

Cá por casa, a conjugação destes factores tem efeitos inesperados: por um lado, uma videira de uvas americanas, assim chamadas, que nos conforta com uma esplêndida sombra em tempos de Verão, tem evoluído, ano após ano, para uma sequência de produção de uvas, desfasadas no tempo, que prolonga a existência desses frutos até Fevereiro (!) de cada ano; por outro, dispondo de um pequeno mas muito verde espaço – que dá água pela barba a este cidadão muito urbano mas, principalmente, à minha-senhora-de-mim – conto com a visita diária de uma plêiade de vizinhos alados, que se servem à tripa-forra dos escassos bens que ali dispomos, mas que nos presenteia, ao mesmo tempo, com os seus cantos e encantos.

E os nossos pequenos-almoços ficaram largamente enriquecidos. As migalhas do pão que nos sobram complementam dietas, em tempos de maiores carências da invernia. Assim a modos que um toma-lá-dá-cá.

Para quem duvidar possa, aqui deixo uma pequena amostra, colhida apenas num dia – 02 de Fevereiro de 2018 -, sem grandes preocupações na qualidade da imagem, porque se privilegia  o testemunho, e, sim, uma singela fatia de felicidade inesperada, mas, agora, de repetição sempre ansiada… pelo menos enquanto houver uvas:

Claro que há sempre, em todas as coisas da vida, as abordagens subjectivas. A nossa gata, por exemplo, pratica os mais desvairados desportos radicais para conseguir desfrutar de outros prazeres para além dos que estes nossos vizinhos emplumados nos proporcionam a nós, humanos.

Mas também ela acede, por essa via – invariavelmente tentada e nunca atingida – a outra espécie de felicidade que o remanso da lareira no Inverno não lhe traz. E desespera-se para sair, em cada manhã, para a sua caçada, sempre perseguida e, salvo raríssima situação, nunca alcançada.

Mas, lá está, o caminho faz-se caminhando e a cada um o que a sua natureza lhe conceda.