– a propósito do movimento de cidadania que tem boicotado as intervenções de governantes, mormente de
  um tal Relvas, este e outros quejandos os verdadeiros fautores actuais do desgoverno e da desobediência civil, os agentes do «mercado» que eles bajulam e alimentam ao arrepio de toda a Humanidade.
     tu aqui não tens nada p’ra dizer


nem de ti tenho nada para ouvir

a palavra
esse dom de humanidade
e de livre pensamento
não se colhe no entulho da aldrabice
nem a queremos ver medrando entre a miséria e o lamento
com que tu e os teus pares nos vão cercando
sempre ao mando e ao desmando
e da pulhice

e não venhas com plangências democráticas
porque em ti tudo teu é fraco e falso
e nem mesmo de algumas almas erráticas
vais a tempo de fugir ao cadafalso

a palavra é um direito
é um dever
é o abraço que nos une e nos irmana
mas trânsfugas que o povo tomam de assalto
uma só me ocorre agora
e é «sacana»

e sacana é aquele que eu não quero nem ouvir
lobrigar sequer por perto
e assim sendo se falar queres
podes ir
p’ràs profundas mais remotas do deserto

aqui não
que não és tu cidadão
mas ladrão que me assalta a descoberto
e em ti cada palavra é a facada
que se paga sempre em sangue e agonia
nesse dia que constróis com injustiças
atropelos
violência
e vilania
e assim medras
tu e toda essa canalha
que na sede deste sangue te igualha
e se amanha no seu sinistro porvir

tu aqui não tens nada p’ra dizer

nem de ti tenho nada para ouvir

nada tens afinal mais p’ra dizer
de ti já se ouviu toda a missa farta
e se vieres que seja só p’ra acontecer
a providência de um raio que te parta!