Porque é de mim que se trata, mas de ti, também. Do meu filho, como do teu. Das nossas famílias. Da nossa dignidade. Da nossa capacidade para enfrentar a adversidade e de lhe dar luta e resposta. De cantar já hoje pelos amanhãs que todos queremos que cantem. Porque devemos assumir a consciência de sermos essa montanha de espírito com gente dentro. Porque não basta a indignação e a revolta se elas não se traduzirem em mudanças de atitude.  
Faço greve, sim, porque HOJE é este o modo de manifestar o meu profundo desagrado pelo rumo que Portugal tomou.
Faço greve, sim, do mesmo modo que adquirirei os produtos da SICASAL como apoio ao empresário e aos trabalhadores que estão a dar um exemplo notável de ânimo, solidariedade e resistência contra a adversidade, mas partilhada por todos e para todos.
Faço greve, também, por aquele trabalhador que há quinze anos é subcontratado, com ordenado de miséria, a fazer trabalho desqualificado, em violação flagrante com tudo o que é legislação laboral e a que nenhum governo tem prestado atenção nenhuma.
Faço greve, ainda, por quantos se vêem caídos no desemprego e são constrangidos a estender a mão ao mais abjecto e hipócrita «apoio social», para matarem a sua fome e a dos seus.
Eu, felizmente, por enquanto estou bem, obrigado. Mas… e os outros? Muito melhor do que qualquer outro arrazoado e infindáveis razões que me poderiam ocorrer, deixo-vos com Brecht:     

Bertolt Brecht
A indiferença
Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.