hoje mataram um ditador
com as mãos nuas e sangrentas de vingança
a populaça e os seus algozes
arrastaram pelas ruas um ódio desvanecido
por cada morte que sentiram na carne
no seu olhar sem olhos
toldados pelo sangue da afronta
e da ignomínia
o ditador não descortina os sorrisos de amazonas
nem há valquírias na poeira de Sirte
apenas o esgoto fétido
onde desceu à condição humana que criou
o seu corpo
saco de despojos
esventrado e mudo
varre as ruas da terra-mãe cheias de infâmia
corpo entre os corpos
morto entre os mortos
os mandantes do mundo ocidental respiraram aliviados
alguém
perto de Sirte
matou um mandante da morte
que o mundo ocidental
arquitectou.
– Jorge Castro
20 de Outubro de 2011