eram p’ra cima de oitenta os marcianos
que o dia dezasseis viu à procura
de – quem sabe? – um grito, um riso ou desenganos
da subtil ironia da mistura
mistura de tais gentes, tais saberes
preclaros num acorde desvalido
nas palavras que brotaram sem haveres
mas de teres que conhecemos de ouvido
e o sonho despontou ‘inda era noite
a parecer um renascer feito de esperança
onde a Lua aconselha a que se afoite
todo aquele qu’inda sabe ser criança
solta a voz entre o luar da palavra
solta a vida na promessa de um poema
cada um no amanho da sua lavra
dá o fruto inspirado que fez tema
e o futuro chega a todos sem que algum
se lastime de agruras do passado
num presente em que todos são só um
abraçados em cadência, lado a lado
e por fim resta apenas a certeza
do incerto que é viver pelo contrário
num eterno combate, na grandeza,
de ser uno, integral mas solidário.
– Fotografias de Lídia Castro e de Lourdes Calmeiro –