escrevo este poema desabridamente
sem lhe saber de contornos
ou até sequer dos cornos de agarrar o destino

escrevo-o assim
simplesmente
sem lhe querer humores de hino
que esse virá mais à frente

não!
ele hoje é só o menino do Torga
com seu cordel
que lanço aqui ao papel
e deita a língua de fora
à vida
e ao romper da aurora
quando nada há ainda urgente
e corre pelas ameias
do castelo das ideias – guardião do pensamento

nem corre
voa
em mil sinas
por montes
vales e campinas
tangido pela voz do vento

e lá vou com ele voando
através das neblinas
sem querer saber até quando
sem lhe ouvir sequer lamento
apenas pela alegria
que esta sim é viagem
pela infinita utopia
pelo longe da miragem
sobre o meu tapete persa

o resto?
ora adeus
são histórias
serão lérias
são mentiras
que me dás e que me tiras

tudo o mais é só conversa!

– poema de Jorge Castro