neste mundo tudo muda
tudo neste mundo passa
e tudo muda a mudança
da coisa romba à aguda
seja por bem ou desgraça
mas neste canto do mundo
nada se passa e no fundo
quando se fala em mudança
só moscas mudam de dança
na lixeira que nos cansa
faz-se a mudança chalaça
ou temor de fim do mundo
e está em nós essa graça
de passar do vira ao tango
em artes de contradança
e mesmo o vira se admira
pelo tango assim dançado
de tão parado e trocado
dançar tango ao som do vira
e virar ao som de um tango
mas o mais certo-certinho
neste pendor p’rà festança
é dançarmos qualquer dança
sempre ao som de algum fadinho
que nos atarde a bastança
se o vate Luís Vaz diz
que mudam tanto as vontades
como os tempos e a confiança
por mor espanto é feliz
o povinho em tal parança
por fim ao cabo e ao resto
resta em nós sempre o mistério
que o presente corre lesto
mas nós bem devagarinho
nunca o levamos a sério
imperador sem império
não há-de o poema ser
promissor ou bem amado
é tudo o que pode haver
neste mudar-se parado
– poema de Jorge Castro