a noite
vem de improviso
não bate à porta nem entra
cai em nós sem dar aviso
uma vidraça escurece e entorpece a vontade
nesse torpor que acontece no bulício da cidade
– que pena não poder vê-las na luz parada da urbe
às infinitas estrelas
luzeiro que o céu invade
dossel que ninguém perturbe –
desce o manto do mistério sobre as vidas e as andanças
como um grito que se escreve numa parede de lanças
tudo à noite é bem mais sério
bem mais curtas as esperanças
e sobram medos
na noite
que nos escorrem pelos dedos
feitos desejo
premência
de uma urgência que se afoite
em busca de uma outra urgência
no breve acaso de um beijo
e a Lua cresce do mar domando as nossas verdades
e aponta outro navegar
novas marés de vontades
a noite é lar dos poemas
que fogem à luz do dia
talvez só porque alguns temas
da cor da noite as verdades
se fazem de mais poesia
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