o que há para se fazer terá de ser feito hoje
e se puder feito já e feito já nesta hora
não por pressa nem demora que o tempo nunca nos foge
mas fugimos nós ao tempo julgando que vá embora
algum tempo em contratempo onde a amargura se aloje
ou se anoje a desventura de esperar sempre amanhãs
que não cantam nem sorriem se não dermos corpo ao grito
emudecido e aflito nas dormências tão malsãs
em que se escoam os dias e as esperanças sem fito
que ele há um tempo de searas e outro tempo de romãs
e nas campinas papoilas dão seu brado sem ter medo
de que o seu sangue vermelho marque a diferença no chão
que nem por isso se esconde esse azul do céu enredo
nem ficará pelo meio da Lua uma translação
de criar marés e dias e os ventos no arvoredo
o que há para se fazer terá de ser feito hoje
que o amanhã tem por certo o ser-nos um tempo incerto
e não nos ficar por perto o ontem que já passou
o que há para se fazer terá de ser feito hoje
corpo de uma esperança aflita ou de um sonho que voou.