«Amália foi a última caravela portuguesa», esta a afirmação de Rui Ferreira, sob a égide da qual decorreu uma excelentíssima  e concorridíssima sessão das nossas Noites Com Poemas, como habitualmente na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana.
Como habitualmente, também, coube-me dar as boas-vindas e fazer a apresentação dos convidados e a proposta de desenvolvimento da sessão – nada mais do que a proposta, pois a adaptação a cada circunstância dá sempre prioridade a um grande espaço de liberdade para todos os participantes…

Em jeito de homenagem ao nosso convidado, Rui Ferreira, a ronda prosseguiu com os jograis Oeiras Verde, através da interpretação de três poemas de grandes poetas, cantados por Amália – da esquerda para a direita, Estefânia Estevens, Helena Xavier, Jorge Castro, Ana Patacho (a maestrina do grupo), Magnólia Filipe e Lurdes Pereira.

Uma especial menção para a voz avassaladora – é o melhor termo que me ocorre – de Estefânia Estevens, nas partes cantadas e o espanto patente nas caras dos circunstantes…

De seguida, João Baptista Coelho com a atenção e o cuidado a que associa a mestria no uso da palavra em forma de poema…
Maria Francília Pinheiro e a intensidade inusitada da sua poesia…
… os Jograis do Atlântico (Edite Gil e Francisco Félix Machado), singrando marés com leme firme…
Joaquim Costa, a emocionar-se em afectos sem nome mas com uma temporalidade urgente e necessária…

Francisco José Lampreia e os seus contos exemplares…

David José Silva com a sua aguda ironia…

… e Clementina, que no deve-haver dos afectos nunca deixa de nos surpreender.
Chegada a altura do convidado, Rui Ferreira brindou-nos com um excelente texto apologético sobre Amália Rodrigues, dito todo ele com uma rara capacidade de comunicação e sapiência muito para além dos lugares comuns consabidos sobre a cantora-embaixatriz de Portugal.

Acompanhado à guitarra por Manuel Gomes
… e à viola de fado por Fernando Gomes
… passou Rui Ferreira a uma sessão de fados de Amália, onde os poemas de tantos poetas portugueses maiores se entreteceram na guitarra e na viola para se transformarem em hinos onde tantos de nós se reconhecem e se encontram…

Senhor de um poder de comunicação, de uma originalidade interpretativa e de uma entrega e empenhamento notáveis, o nosso convidado «agarrou» a assistência da primeira à última nota, sem remissão ou pecado!

Também Rogério do Carmo, poeta convidado do nosso convidado, o acompanhou brindando-nos com duas superiores interpretações poéticas: Foi Por Vontade de Deus e O Grito, introduzindo ambos os fados, logo depois interpretados por Rui Ferreira, numa interessante conjugação de modelos.
Por fim, a indispensável sessão de autógrafos, pois o livro de Rui Ferreira – Amália – A divina voz dos poetas de Portugal – apareceu logo nas mãos da grande maioria dos presentes, por todas as razões e mais alguma… e tenho para mim que com plena justificação. 

– fotografias de Lourdes Calmeiro
NOTA – Uma menção final de reconhecimento pela sugestão e envolvimento de Júlia Franco, graças à qual foi possível conjugar vontades para que esta sessão se realizasse.