NOS 100 ANOS DA REPÚBLICA PORTUGUESA
eu fui um dia à República a ver o que lá havia
vi gente de vário trato mas a grande maioria
tinha mão cheia de nada – de quase tudo vazia
e por República ser irmã da Democracia
perguntei a um cartola que ostentava a demasia
porque havia nele tanto que à miséria carecia
que não! – que não! grita pronto com ferida fidalguia
– o que tu chamas miséria mais não é que a mordomia
de quem só vive de manhas que o estado subsidia
eu cá sou pilar do mundo sem mim nem dia nascia
sem mim o povo ia ao fundo – a Humanidade ruía
nem haveria no mundo a sagrada Economia…
a seu lado afadigado um jovem casal corria
quis saber da pressa tanta e daquele ar de agonia
– entre o emprego e os filhos era o tempo que fugia
e a seu lado um pedinte que trabalhar não podia
e outro mais que queria mas de emprego não sabia
outro ainda que o tendo só o tinha por um dia
e estando todos sofrendo era um só que sorria
e de todo o sofrimento de quem tanto assim sofria
era esse que do pranto e da miséria vivia
*
verde e rubra esta bandeira com a esfera armilar
que deu volta à terra inteira pelos caminhos do mar
e se foi da cor do céu com que um dia se pintou
foi com os braços do povo que cada nau navegou
e passaram tantos anos que já ninguém recordava
ser o primado do Homem que à República interessava
sendo irmãos concidadãos entre si de modos vários
mas um por todos à vez todos por um solidários
que a República se fez p’ra cada um e por todos
fraterna urgente e ufana de dar liberdade a rodos
e não para dois ou três fulanos sem terra ou ninho
que só cuidam do viver explorando o seu vizinho
e que medram no esterco da desgraça que exaltam
sugando p’ra si proventos que a tantos tanto faltam
não é privada a República com as mãos de todos feita
urge então as mãos nos darmos para banirmos tal seita
sermos de novo este povo de ter fado sem amarras
e de cumprir o seu sonho qual Paredes nas guitarras
as mãos bem firmes no leme cuja rota ao mar aponte
mas com raízes na terra e a Vida por horizonte!