Mil oportunidades há e outras tantas, ainda e acrescidas, para discorrer sobre os mais desvairados temas que nos perturbam os neurónios e – nem que seja por presunção autoral – aflijam o País.
Daí que, contrariando o bichinho opinativo que me desassossega, me inibo frequentemente de lavrar por escrito os comentários que me são suscitados pelo quotidiano jornalístico, eivado de questões «sem-importância» mas que se revelam, tanta vez, de muito maior pujança do que pareceriam, à primeira vista.
Desta feita, ocorre-me especiosa questão:
– porque é que, invariavelmente, governo após governo, de há dezenas de anos a esta parte, todo e qualquer elenco do Ministério da Educação – e já foram tantos, os abençoados…! – escolhe SEMPRE o mês de Agosto, altura em que, recordemos, as escolas se encontram praticamente encerradas e todo o pessoal docente em gozo de férias, para dele emanar medidas ponderosas que alteram o modus operandi e o modus vivendi de todos e cada um dos estabelecimentos de ensino público, de quem lá trabalha e de quem lá aprende?   
No corrente ano, coube a Isabel Alçada o fardo deste tipo de desatino: primeiro, o anúncio de retirar as retenções de ano do processo avaliativo, leia-se acabar com os chumbos – devaneio sobre o qual emendou atabalhoadamente a mão, face à reacção generalizada da «sociedade civil»; depois, a escassas três semanas do início do ano lectivo é que é feito o anúncio de quais as 700 escolas que encerram, com manifesta perturbação para todos os envolvidos: pais, alunos, professores e as próprias entidades organizativas escolares; e ainda, também em Agosto, o anúncio, através de despacho assinado pela ministra Isabel Alçada, datado do dia 3, pelo qual se determinam novas condições no acesso ao apoio financeiro a conceder em 2010/2011 às escolas de ensino integrado (cooperativo), nomeadamente as escolas de música, o que coarcta esse acesso a inúmeras escolas… o que envolve, por sua vez, milhares de alunos nelas já inscritos, cujos pais estão, agora, em palpos de aranha para saber o que fazer.

E todas estas coisas neste período onde o remanso balnear ou campestre do bom povo português o desaconselharia, convenhamos.

Fica-me evidentemente a dúvida repartida, em partes iguais ou acumulada: será deliberada má-fé e/ou mera (conveniente mas pouco convincente) desorganização do ministério o que estas tomadas de decisões em tempo de férias denunciam?
Pois com este sentido de «oportunidade» evita-se maior e mais imediata contestação da parte de lesados; cria-se um clima generalizado de maior ansiedade e intranquilidade sobre docentes, alunos e respectivos encarregados de educação, coisa aparentemente tão cara a quem governa (ou manda e desmanda…) neste País.
Serão estes os intuitos? Pobres e lamentáveis deles. Mas é com estas espertezas, como sói chamar-se, que se estruma o caldo de cultura através do qual todos nos vamos transformando (uns com mais sucesso do que outros) em espertalhões oportunistas, como condição de lamentável sobrevivência, e perdemos totalmente o norte à solidariedade – também institucional – que nos devia enformar, enquanto povo, enquanto nação.
Como sempre, os exemplos vêm de cima. Depois queixam-se, com lágrimas de crocodilo, pela «ausência de valores»…