Há cerca de 5 anos, através da actividade nos blogs, tive oportunidade de travar conhecimento, que se desenrolou em amizade, com Manuel Filipe. Amizade profíqua, que se traduz em encontros, sem regularidade mas com constância, onde cultivámos artes de proximidade e de afectos, não descurando a poesia, bem como os comentários sobre o mundo que nos envolve… enfim, pondo, como sói dizer-se, a matéria em dia.  

Com as nossas companheiras, preferencialmente em presença de um lauto repasto, em local tranquilo…

E vem isto ao caso de cultivarmos, também, a troca de galhardetes, habitualmente em volta das nossas produções – sempre que tal nos seja possível. 
Foi assim que em Abril floriram mais dois volumes da sua produção poética, a que apenas alguns poucos afortunados acedem e que muito me apraz ser contado como um desses: Medusa e Eis Uma Casa
Prego-lhe, depois, a partida de desvendar em hasta pública um pouco do seu espírito, em homenagem mais do que merecida, respigando um ou outro dos seus poemas e convosco os partilhando:
Já Foi Árvore
Ali, fustigada em seu balcão
já foi árvore arrancada a qualquer bosque,
mais tarde enterrada em chão de rochas, 
e amorosamente colhida nessa praia 
por um recolector de perfis abandonados,
porque ele bruscamente adivinhou
que um contorno virgem dera à costa
e no madeiro estropiado e convoluto
viu braços,
e seios,
e estranhas asas
que lhe nasceram, talvez, a navegar
e só não viu
– por estarem fatigados –
os seus olhos
que tinham abarcado terra e mar.
(in Medusa) 
Casa Branca
O sol espelha longamente
o rosto ígneo
na branca fachada
que não quer acordar
do sono displicente.
Rompe agora
um silvo duro e insistente
mas na gare despojada
não assoma ninguém…
E o comboio
nem por água
se detém.
(in Eis Uma Casa)