Sem desculpa, nem perdão.
Talvez corra, no nosso património genético, esta sede de sangue relativamente ao nosso irmão. E com tanta virulência que o verniz do suposto avanço civilizacional não apenas não a erradica, como parece, até, requintá-la.
Vem isto a propósito das imagens que têm provocado algum alvoroço nas consciências ocidentais (acidentais…?), que nos chegam do sítio WikiLeaks e que documentam um ataque perpetrado por helicópteros americanos sobre alegados «terroristas» iraquianos.

No fundo, aparentemente apenas um «pequeno» equívoco de soldados – leia-se aqui gente anormalmente perturbada – do qual resultaram doze mortes entre vulgares cidadãos que transportavam, alguns deles, máquinas fotográficas – seriam repórteres da Reuters – as quais foram confundidas com metralhadoras AK-47…

Tudo lamentável, como, logo de seguida, as mortes de outros seres viventes que, numa carrinha, tentaram prestar auxílio aos feridos e que foram, por sua vez, sequencialmente abatidos.
E damos por nós a discutir o sexo dos anjos quanto à «naturalidade» de uma situação destas ocorrer, em cenário de guerra, e, tanto quanto se vai dizendo, poder ser admissível que 2 helicópteros fortemente armados abatam a sangue frio um grupo de PESSOAS que lhes surgiu na mira, numa terra chamada Iraque.
Poder-se-iam inventariar mil argumentos que «justifiquem» uma tal ocorrência.
Poder-se-ia, até, levar à conta do desiquilíbrio psicológico motivado pelo quadro de guerra em que se encontram envolvidos os soldados americanos (e os outros), aqueles comentários imbecis mas chocantes que ouvimos ao longo da filmagem.
Mas – vendo bem – nada, nada pode dar cobertura ao acto de matança a sangue frio que as imagens documentam. Seja qual for a razão que invoquem esses envolvidos e seja qual for o seu quadrante político.
Este despojamento com que se trata a vida humana – que sabemos bem tão precioso – assumido por um qualquer mandante num qualquer conflito mundial; esta bestialidade que nos envergonha a todos e nos retira, afinal, a legitimidade de permanecermos, sequer, à face da Terra, trouxe-me à memória a velha canção do Donovan de que falo, em título…
Não por uma crise serôdia de pacifismo exacerbado, mas pela consciência profunda desta vergonha irracional que nos inunda ao assumirmos a nossa quota-parte de carne para canhão, em troca de miseráveis argumentos defendidos por miseráveis tratantes.