Muito se especula sobre crises de valores da sociedade actual e algumas fortunas vão sendo criadas à custa de mezinhas milagrosas de combate às angústias existenciais de quem perde o rumo à vida, o que me faz pensar que montar um negócio de venda de bússolas como elementos imprescindíveis dos dias modernos poderá ser um nicho de mercado mal explorado, mas de assegurado sucesso.
Respigando, com a devida vénia, três notícias do jornal de distribuição gratuita DESTAK, de ontem, dia 12 de Fevereiro de 2010, partilho convosco estas curiosidades, em vésperas do dia em que, queiramos ou não, há que namorar, conforme a globalizada cartilha dos interesses:

Namorar é bom. É, mesmo, excelente. Pelo menos pelos padrões por que me tenho regido vai para uma pipa de anos. Como e com quem será, talvez, menos relevante, pois o acto em si, da sedução ao prazer físico, nos basta, se ousarmos desvirtuar o próprio acto – mais interessante a dois – com esta postura egotista.Então, porque não com um substituto animal de estimação? Em vez de um inacessível e algo boçal Cristiano Ronaldo ou um velhíssimo ainda que charmoso Robert Redford, um gorila macho de dorso prateado dos montes da bruma? Ou, noutro registo, em vez de uma Nicole Kidman, alta por demais, ou uma Sophia Loren, cujas rotundidades povoarão ainda muitos imaginários, uma anaconda fêmea do pantanal brasileiro? O drama terrível da dissolução da família tradicional atinge um museu de cera. Quem diria ter a matéria inerte uma tal propensão para assim seguir o mundo real… Pergunto-me quais os efeitos de uma paixão tórrida em tal estabelecimento. Porventura, no dia seguinte, os seguranças do museu deparassem, incrédulos, com uma mistura orgíaca, democrática e amalgamada de cera espalhada pelo chão…

De facto. Mas «mudar» de sexo para quê? Terá passado pela cabeça deste ser humano a eventualidade da autorreprodução, ultrapassando a fasquia dos caracóis que, sendo hermafroditas, ainda assim carecem de um parceiro sexual?

Ou tratar-se-á de um/a original que anseia por dar novos mundos ao mundo pela voz da sua descendência: «- A minha mãe é um homem de barba rija! Só era pena que, ao amamentar-me, a boca me ficasse cheia de pelos…»
Em qualquer caso, foi dada uma outra dimensão à quadra cantada pelo Zeca:
Já fui mar, já fui navio
fui chalupa e escaler
já fui moço, já sou homem
só me falta ser mulher…
Porque não é bastante a estas almas, irmãs nossas, realizarem um seu sonho sem que venham, em correria, dar conta dele ao mundo inteiro, e sem qualquer conotação retrógrada, mas pela ironia que tanta exposição me sugere, propalada aos quatro ventos, articulada com o próprio tempo invernoso, recordei uma exclamação que os nossos avós já diziam: está o mundo roto, chove nele como na rua.
E fazem-nos crer que o mundo vibra ao som cacofónico de dissonâncias, onde o sangue é capa de revista e o que ontem era número de circo, hoje, o nível civilizacional a que nos alcandoramos (?) já confere direitos de privilégio em notícia de tv ou de jornal.
Receio bem, em minha opinião, que apenas se tenha alterado a qualidade da tela do recinto circense.