Dir-me-ão que águas passadas não movem moinhos, mas tal não vem ao caso por não ser esse o objectivo desta entrada, o mover moinhos… Apenas apontamentos dispersos de recentes acasos em que me deixei envolver, ao longo desta semana que passou e que representam outros tantos exemplos de que a Terra ainda roda sobre o seu eixo e à volta do Sol e no concerto sideral.

Em Santo Amaro de Oeiras, uma comunidade de moradores promove encontros de vizinhos, cria feiras de bairro, organiza eventos musicais, divulga e protege a miríade de aves que habitam um espaço ainda frondosamente vegetal…O meu chapéu por tanto afecto. Pareceu-me até, divisar numa velha árvore um discreto sorriso de cetáceo, congratulando-se com tanto desvelo.
Em Carcavelos, reatada a tradição da procissão de Nossa Senhora dos Remédios, a comunidade agita-se, entre fé, devoção ou mera curiosidade, em torno de, afinal, um pretexto mais para as gentes se encontrarem…

… ou as forças vivas darem um ar da sua graça, reconquistando e devolvendo, ainda que por breves momentos, o espaço urbano para outras graças que transcendem a sem-graça do ramerrão quotidiano.

A Banda da Sociedade Recreativa e Musical de Carcavelos que mantém um invejável currículo que ultrapassa a centena de anos.

Num salto à Sociedade Portuguesa de Autores, com o Pedro Barroso e o seu último livro, editado pela editora Temas Originais, caímos no braço dos Contos Anarquistas, expressão de ser e de estar a ver e interferir no mundo à nossa volta…

… num exercício de cidadania partilhada – se me for permitida a redundância – em forma de pequenos contos saídos da alma que temos. Eivados, também, daquele modo danadinho de ser e de estar que nos enforma e que um olhar interessado captou, para próprio e alheio desfrute.

Pela livraria Ler Devagar, foi ontem o lançamento de uma revista de artes, a Inútil. Uma sala cheia de gente que se preocupa com essas deliquescentes inutilidades em forma de música ou poema ou fotografia ou… seja lá o que for que passe pela cabeça de alguém, na qualidade de ser vivente, que lhe basta. Uma coisa Inútil, pois, que não será demais…


Em remate de apontamentos, aquele a que crinhosamente chamarei de maduro, o Michel, que pela Ler Devagar expõe, há largos meses, os seus objectos moventes – que explica e descreve com minúcia a quem mostre interesse em ouvi-lo -, construídos com restos de quase tudo e com os quais reconstrói o tempo, a cidade, o universo.
Deles fala com uma evidência lógica que apenas pressentimos através das suas palavras, mas a que rapidamente aderimos, se o quisermos, com um brilho menino no olhar que mais não é, afinal, do que a cumplicidade que ele busca, para que o seu universo faça sentido…