A escassa hora e meia de Lisboa, um destino que já não visitava há cerca de vinte e cinco anos: o
Convento de Cristo e o Castelo dos Templários, em Tomar. Levava comigo alguma curiosidade em saber o estado de conservação deste extraordinário monumento, que então vi muito mal tratado e em preocupante devassa.
Magnífico conjunto arquitectónico, actualmente classificado pela UNESCO como património mundial, testemunha-nos grandezas e mistérios passados… ao lado de algumas fraquezas da nossa História mais recente…
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-015-Large.jpg)
A profusão decorativa, o rendilhado da pedra, a emprestar elegância e leveza à força bruta, não cessa de causar a minha admiração, até pela mestria das mãos que a executaram…
A profusão de claustros, a arquitectura e beleza cenogáfica de cada recanto, podem recomendar horas de contemplação.
A charola (século XII), em fase de restauro, é destino obrigatório…
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-122-Large.jpg)
… tanto quanto a janela do capítulo, do convento, da autoria de Diogo de Arruda, ex-libris deste conjunto monumental.
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-077-Large.jpg)
Um pequeno senão: se excluirmos o senhor que cobrava as entradas e a senhora que se afadigava, junto à charola, para que ninguém «fotografasse com flash», não topei com ninguém que pudesse ser interlocutor da visita. Também a loja encerra, salvo erro, entre o meio-dia e trinta e as duas da tarde, por falta de pessoal – ou de verba disponível, digo eu…
Sem estar para aqui com paranóias securitárias e apreciando mesmo alguma ausência (ou discrição) de vigilantes cuja imposição de presença pode incomodar o enlevo de uma visita deste tipo, verdade é que alguma presença humana institucional se recomendaria, como aconselhará o bom senso e atendendo a algumas posturas de «crianças sem pais à vista» e de adultos curiosos e recolectores em demasia. Nem oito nem oitenta…
Cá fora, já no estacionamento – que, para não destoar do panorama nacional, toda a gente parece ter-se esquecido de concluir e rematar, cheio de buracos, pedras soltas, poeirada e outras minudências -, uns poucos postos de venda, com fruta e outros mimos da região, que não me pareceram nada mal.
Já profusamente abastecido com os bons sabores dos velhos tempos – ah, as delícias da fruta fresca sem frigorífico! – louvo, então, esta iniciativa individual e muito privada – quem sabe um bom exemplo de parceria público privado… -, que não deixa de representar uma mais-valia à visita e – porque não? – uma originalidade nossa, de qualidade, em destino turístico.
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-202-Large.jpg)
Como fica provado, até os olhos se riram…
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-221-Large.jpg)
Descendo até Tomar – onde não encontrei, nos restaurantes onde procurei, um prato típico da região, com a honrosa excepção de um doce de ovos, ficando-me pelo que se come de norte a sul – revisitei o jardim em volta do rio Nabão…
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-229-Large.jpg)
… onde, em certo trecho, me imiscuí numa eterna conversa e mantive o diálogo possível com o maestro Fernando Lopes Graça e Fernando Araújo Ferreira (poeta e homem de cultura da terra). Na verdade, o Sol estava a pino e o conjunto, em bronze, fervia…
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-260-Large.jpg)
Junto à praça onde se encontra a estátua de Gualdim Pais, o fundador da cidade, não pude deixar de notar que, no meu lado direito não visível na fotografia, e tendo por trás de mim o edifício da Câmara, existia um lugar de estacionamento privado da autarquia.
Ora, havendo um enorme parque de estacionamento a escassos 50 metros dali, não deixa de ser bizarra aquele mordomia, até porque a viatura estacionada, por muito BMW que fosse, nada tem a ver com o demais contexto.
Se calhar, é um reflexo dessa mania que alguns autarcas têm de que «aquilo» é deles, enquanto lá estão, e não sempre dos munícipes… Aqui fica a nota, à consideração.
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-264-Large.jpg)
De regresso a casa, uma paragem junto ao
Castelo de Almourol. Um barquinho, no cais, que transporta os visitantes por 1,5 € (ida e volta) – que não dão, aparentemente, direito a que o senhor barqueiro auxilie nas entradas e saídas dos passageiros -, numa viagem de 5 minutos… e, depois, o deserto. Ninguém e nada que nos despertasse para a aura de mistério e romantismo que este lugar evoca…
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-273-Large.jpg)
Uma vez mais, adivinho a falta de verbas (e de visão), que devem estar a ser arrecadadas para os tgvês das megalomanias, enquanto o passado e o presente se nos esboroam aos pés, apenas deixando lodo e areias para o futuro…
Que diabo, era dia da semana e eu contei para cima de oitenta visitantes, na horita que ali passei. Essa afluência não poderá justificar a permanência – pelo menos, em período de Verão – de alguém que, em tão privilegiado espaço, nos trouxesso história, contos e lendas do sítio, acrescentando saberes àquilo que os olhos enxergam?
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-283-Large.jpg)
De resto, uma esplêndida vista para ambos os lados do Tejo, num castelo absolutamente sem recheio algum, para além daquele que as pedras sustentam…
![](https://sete-mares.org/wp-content/uploads/2009/08/2009-08-18-310-Large.jpg)
Fica no ar uma certa nostalgia pelo futuro, que, do passado, parece não haver nada para dizer. Uma certa amargura e acidez, também, talvez induzida pelo excesso de Sol, mas isto de destinos de férias nem sempre nos saem de feição, a cem por cento.
Mas a visita, ah, essa recomendo vivamente! Lugar de inspiração para quem a tenha. E que, como é sabido, é coisa arredia mas, ainda assim, baratinha.