A propósito de algumas questões que me foram recentemente colocadas e que se prendem com o facto de os meus livros não se encontrarem disponíveis nas livrarias, face à estranheza por tal facto da parte de quem se me dirigiu, considero que este esclarecimento pode fazer algum sentido. Assim, mesmo sabendo que, para além da sublime mas circunscrita área do meu umbigo, esta arenga poderá não ter interesse para mais ninguém, eis aqui algumas das razões que, sucintamente, norteiam esta minha opção:

– Não sou um profissional da escrita. Entenda-se esta afirmação linearmente, ou seja, não sobrevivo ou dependo, economicamente falando, com ou daquilo que escrevo. Ainda que, vejamos – e antecipando juízos apriorísticos -, nada tenha contra quem faz disso opção de vida.

– Esta prévia circunstância – que, desde logo, me permite uma relação de grande liberdade com a folha de papel e/ou com o teclado – determina, por outro lado e em acumulação, que, desde as temáticas ao seu planeamento, as minhas escrevinhações não dependam de circunstâncias ou influências impostas, mas tão-só das assumidas, o que me é, convenhamos, muito mais confortável.

– Por outro lado, não concordo com – e confesso ter dificuldade em entender – as percentagens «oficialmente» instituídas no mercado livreiro, bem como com as suas práticas e lógicas mais comuns na gestão da obra literária. Resumidamente, diria a este propósito que os cinquenta e tal a sessenta por cento do preço de capa destinados aos circuitos de distribuição, pagos tarde ou nunca à editora, com exemplares devolvidos – quando o são… – em péssimas condições, pelos tratos de polé entretanto recebidos, são de molde a olhar eu para esses circuitos de modo muito enviesado…

– Excepção feita, sublinhe-se, ao esquema que mantenho com a Apenas Livros que não se integra em modelo nenhum que se aproxime do acima descrito.

– Assim, opto por tiragens pequenas e razoáveis, que transporto comigo nas acções para que sou convidado… e, como já alguém me disse, os amigos compram-nos os livros, que mais não seja para cooperarem com ou promoverem o próximo lançamento. Terá este sistema muito mais inconvenientes do que abordagens abonatórias, no que ao recheio da carteira interessa, mas também não é menos certo que ele me permite uma maior proximidade ao meu leitor, sem que para tanto eu precise sequer de pensar em termos de «público-alvo» ou outras perversões da arte da escrita.

Não me tenho dado mal com tal esquema, o que vos poupará à audição de algum queixume ou lamúria. Seguramente que as receitas não cobrem os encargos. Mas, como fica dito, não sou um profissional da escrita. E vou escrevendo o que me dá na realíssima gana, coisa que não tem preço.

Não sendo profissional, serei amador. E amador quer-se aquele que ama.
E também evito, dessa forma, uma «competição» entre autores que, essa, então, estará nos antípodas da minha maneira de ser.
Conto, evidentemente, com tais atitudes ganhar o céu. Ó vós, que do alto me escutais…