A alguém que me perguntou se o Sete Mares se distanciava do momento político, por lhe parecer que havia, neste espaço, algum alheamento à coisa eleitoral, respondo:
Claro que não. Mas o meu conceito de cidadania, considerando o acto de votar determinante, não se esgota, bem longe disso, num episódico acto eleitoral. A nossa caminhada é feita em cada dia e, felizmente, os meus dias têm andado bem recheados.
Mas, a esse propósito, diria que se me fosse dado alterar alguma coisa neste concerto de partitura viciada, uma coisa seria prioritária: acabar com a divulgação pública das sondagens.
Na verdade, considero esta uma das mais flagrantes distorções e preversões da vida democrática e de uma inutilidade que brada aos céus… Ainda assim, não há bicho-careto que não nos massacre a paciência, em termos dos media, com os «resultados das sondagens».
Sondagens que invariavelmente favorecem quem as paga e que também invariavelmente estão conotadas com o poder vigente; que patenteiam sempre erros grosseiros exactamente nos pontos onde, em cada eleição, se faz a diferença.
Subjacente fica o quê, a cada sondagem? Indução de comportamentos, por atestado de menoridade cívica aos eleitores? Promoção do absentismo por já estar tudo definido? Argumentação e munições para o circo eleitoral mediático?
Tudo isso, mas tudo não acrescentando nada à vivência democrática.
Para que servem, então, as sondagens senão como contributo para encarneirarem ainda mais o rebanho? Ah, o vizinho vota assim…? – Como se tal fosse necessário para eu definir a minha própria opinião.
E que nenhum desses gurus me incomode, em casa, com perguntas deste jaez. Garanto-lhe uma corrida em forma.
Quanto ao mais, o Sócrates estaria à espera doutra coisa? Se estava, ainda é pior do que se poderia imaginar, ao aliar a inconsciência à ineficácia obstinada.
Ah e um outro final apontamento: para aqueles profetas da desgraça que já predizem que se o equilíbrio eleitoral agora atingido se repetir nas legislativas tornará o País «ingovernável», direi tão-só o óbvio: mais ingovernável do que o tornou esta maioria absoluta será difícil.
Talvez seja esta a hora de se imaginarem, também na política, desenvolvimentos mais criativos e inovadores. E que passarão, inevitavelmente, pelo envolvimento, cada dia mais consciente, dos cidadãos. Valha-nos a Utopia!