Integrado no movimento Rumo Ao Centenário, da Associação dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos e São Domingos de Rana, teve lugar, no passado dia 10 do corrente, um passeio por Carcavelos, que teve como guia o professor Fernando Catarino.
Com a sua proverbial jovialidade, com o seu humor peculiar e com a sua imensidão de saberes, para cima de oitenta viventes usufruíram desta excelente companhia, através de ribeiras, pedras, casas, leiras, árvores, usos, costumes de que estamos afastados e esquecidos e que, pela mão do mestre, de súbito nos rodearam, intemporais e presentes.
Um espírito crítico agudo, temperado com uma lúcida tolerância, alerta os espíritos para o primordial da Vida, reservando apenas um olhar passageiro para o acessório, que por ali está, mas… é acessório.
Apontam-se as marcas ancestrais que construíram e enformam os viveres e que são as fronteiras de que carecemos para nos situarmos no tempo presente e estruturarmos o futuro.
Pelo caminho, apreciámos que nem tudo é descurado. Que aqui e ali uma congregação de vontades desperta (e desperta-nos) para esses laços com o passado através de um presente activo e empenhado.
As ribeiras que ladeiam Carcavelos mostram, à evidência, como numa escassa centena de metros as águas encardidas pelo mau uso que lhes damos podem, mediante a colaboração das plantas que crescem no seu leito, purificar a água até ao ponto de a transformar em cristalina, numa «etar» natural, que deve servir-nos de exemplo. Mas que ressalta ao nosso olhar distraído pela militância e paixão do professor Catarino.
Depois, a palestra informal, na Quinta da Alagoa, onde até os patos acharam por bem dar ouvidos aos saberes.
Do alto do torreão, para onde se encarrapitou num ápice, com um vigor sem idade, mostra-nos o que a natureza e o homem podem criar quando sabem conjugar-se. Tanto quanto o inverso pode acontecer quando o divórcio ocorre.
E ala, que se faz tarde! Toca a reunir com a graça e a urgência do caminho, que ele há muito para saber e conhecer e o tempo é sempre pouco…
Um afago, uma despedida a duas árvores irmanadas que morreram, porque assim teve de ser, perante alguma insensatez de quem as plantou tão unidas e conflituosas. Os tempos, aparentemente, ainda não serão muito favoráveis a determinadas uniões de facto…
Em todos a irreverência do guia provoca sorrisos, pelo desassombro bem humorado no comentário chistoso.
Mais de duas horas levava a passeata quando chegámos ao centro de Carcavelos e se o trajecto ia a meio, o interesse mantinha-se em crescendo.
Uma pereira brava, do tempo dos nossos avós e das quintas que rodeavam Carcavelos, sobrevivente a urbanismos apressados e inconscientes, mereceu o cumprimento da comitiva e especial referência do professor.
Por razões históricas diferentes, fez-se a ponte entre a Quinta Nova e a St. Julian’s School, aproveitando para a fotografia de família.
Ponto alto do passeio ocorreu quando o professor Fernando Catarino, unindo tão só a terra e a água, nos mostrou os matizes que as cores da natureza nos podem trazer e, em escassos metros quadrados, apurámos uma gama de cores, indo do amarelo pálido ao ocre intenso, tintas indeléveis de quadros por pintar, ali, todas, ao alcance da mão.
Uma estátua – ainda que galhofeira – conquistada e merecida!
Deste passeio foi lançada mais uma pblicação de cordel, da Apenas Livros, da autoria de Fernando Catarino, com o título Carcavelos e o Vinho: o solo e os caminhos da água. Para quem não pôde fazer este percurso no terreno, que o faça agora pelas págnas deste livro. Basta contactar a Apenas.