De uma reflexão que me chegou na caixa do correio, respigo uma ideia que deixo à consideração dos passantes, sobre a dimensão da «crise»:
Sabe-se que o plano de resgate aos bancos, só nos Estados Unidos, feito com o dinheiro dos contribuintes, ascende, numa primeira tranche, a 700.000 milhões de dólares (leia-se setecentos mil milhões de dólares).
Não contabilizemos os 500.000 milhões de dólares de segunda tranche, nem os incontáveis milhões de euros dos governos europeus às respectivas bancas.
A população do planeta ascende, actualmente, a 6.700 milhões (leia-se seis mil e setecentos milhões de habitantes).
Se dividirmos os 700.000 milhões de dólares pelos 6.700 milhões de habitantes, dá para se entregar a cada habitante, 104 milhões de dólares!
Não apenas a crise deixaria de existir, como cada habitante do planeta ficaria milionário…
Há algum erro neste raciocínio?
– Claro que há! Bastou cá ter chegado alguém (obrigado, Paulo Moura; eu devia estar a dormir…) que ainda sabe fazer contas, para se concluir que o resultado da divisão acima é… 104 dólares! Ora, por isso, já nem o sono me tiram…! É o que dá sermos tão crédulos em face das mensagens recebidas.
*
Em qualquer caso, por considerar relevante, sequencio esta entrada com o comentário à mesma feito pelo Jaime Latino Ferreira e o meu comentário ao comentário. Então, cá vai:

SER MILIONÁRIO
Partindo do princípio que essas contas que te enviaram estariam bem feitas e distribuindo-se, então, esses milhões por cada habitante do planeta deixando colapsar o sistema financeiro, onde guardaria cada qual os seus milhões, debaixo do colchão!?
Ou, dito de outra maneira, deixando de funcionar o sistema financeiro, que valor teriam esses milhões nas mãos de cada qual!?
Algum, nenhum, assim assim!?
Isto para dizer que: É prudente, nestas complexas questões, não se cair em demagogias.
O sistema financeiro tem um importante papel redistributivo e universalizador do dinheiro, o que resta é saber qual, em que sentido e com que objectivos!
Imagina que passava só a existir dinheiro de plástico que não existe, aliás, sem o sistema financeiro e que passava a prevalecer, como regulador e num parâmetro universal também, não o crédito mas sim o débito, num patamar máximo de taxa zero e onde a deflacção deixasse de ser um tabú!?
Ter-me-ei feito entender!?
– Ao que eu comentei:
Claro que sim. Nem a minha ingenuidade chegaria a tanto…
Mas a questão reflexiva proposta dirige-se, apenas, ao paradigma para que nos fizemos evoluir.
O simples facto de podermos presumir que, no concerto do mundo, em pé de igualdade com cada ser humano vivente, cada um representa um valor X, ao qual terá direito de acesso em caso de necessidade extrema… bem, isso levar-nos-ia muito longe no quantificar dos Direitos do Homem.
Por outro lado, sendo o dinheiro que tudo regula, interessa a esse mesmo «dinheiro» a hipocrisia – vista nesta perspectiva – de que a vida do ser humano «não tem valor». Hipocrisia, porque, afinal, para cada um de nós, na perspectiva do capital, ela está plenamente quantificada.
E esse valor relativizado equivale a dizer que não tem valor nenhum, como qualquer declaração de guerra bastamente prova.
Valha-nos, então, a relativização da hipocrisia, até que consigamos evoluir para outro paradigmático patamar civilizacional – o que não se conseguirá sem profundíssimas convulsões, como todos sabemos ou presumimos saber.