dos magalhães aos professores achincalhados
eu canto esta aleivosa pepineira
em que vamos decaindo de maneira
que mal damos por nós já de tão sedados
e nem se salva Courbet na velha Braga
censurado por falhados pais da tanga
que perdidos neste mundo de fuçanga
decidiram também dar corpo a tal praga
razão tinha Junqueiro aos hipopótamos
gritando ó Humanidade enxota-mos!

bruta e fera a dita e com tal sorte
muito mais do que vivermos vegetamos
e no pântano de enganos lá vogamos
esperando por reformas e p’la morte
assim querem ou esperam – determinam
os fautores da desgraça inadiável
espiral – fatalista e infindável –
que ao comum cidadão a esperança minam
e mal se ouve um só que em bravo dichote
aconselhe espantar tal corja a trote

fica o voto – limiar de consciência
vil resquício de um passado de firmezas
e de lutas – de combates – de incertezas
onde o Homem era o centro da ciência
esse voto tão certinho e lapidar
que aconchega a vontade entorpecida
que amortalha a coragem mal-ferida
mas que ao mesmo tempo nos impede o mar
esse voto que devotos nós lançamos
sem sequer apurar por que votamos

liberdade – quem a tem chama-lhe sua
igualdade – de ter cada um bastante
ser fraterno um destino em cada instante
de trazer a poesia ao rés da rua
ver no outro não o rival mas o amigo
saber ser solidário e altruísta
coisas vãs mas que foram a conquista
que nos fez ver para além do triste umbigo
e fazer de cada um estar mais ufano
de ser inteiro – solidário – e ser humano.

– Jorge Castro