19 de Fevereiro, no local do costume, pelas 21h30, teremos Poesia de Pedra e Cal.
Como convidado, o escultor Francisco Simões, autor das estátuas que povoam o Parque dos Poetas, em Oeiras. Lugar mágico e inspirador, aquele. Digo eu que o visito, amiúde, naqueles fins de tarde de dias mais difícieis de aturar, em busca do retempero de forças e ânimo.
A essa magia não é estranha a presença de quantos poetas por ali vagueiam, imorredoiros, tutelares e totémicos, como as suas obras, mas regressados a essa vida física pela mão do escultor que os interpretou.
Certo dia, assisti a uma sua dissertação, pelo Parque, poeta a poeta, e nem dei pelo tempo passar. Daí a convidá-lo, foi um passo. Até à sua pronta aceitação, outro.
Quem puder, venha! Creio bem poder assegurar mais uma sessão em que o tempo voará.
Entretanto e em homenagem ao convidado, aqui vos deixo um poema, ao jeito de um cartão de apresentação:
em bloco duro de pedra informe e fero trato
a mão afaga
o cinzel lavra
aquele retrato
que paira só no olhar denso do artista
de forma tal que saiba ele que lá exista
um corpo
um ar
um ser
um estar
que nos evoca
o infinito de um mistério e da poesia
e quando depois se toca a aspereza atenuada
dádiva da terra-mãe por troca de nada
em parto ardente sem temor ou agonia
mas que a mãos ambas
o escultor mostra
e desvenda
e traça a golpes com o maço que deslaça
o fino enredo de uma vida
de uma lenda
queda-se esse infinito ao rés da mão em gentil acto
para melhor que o mundo o entenda
assim nascido
em bloco duro de pedra informe e fero trato.
– poema de Jorge Castro