Entendamo-nos: tudo o que eu vou referir, de seguida, acerca dos problemas que afectam a minha humilde pessoa, nada é e nada pesa nem em relação à mais mínima situação de fome no mundo, nem sequer à mais recente situação de despedimento. Não é, tão pouco, da gravidade de um abandono (humano ou outro). É, apenas e tão somente, um desabafo relativo, já que tudo é relativo na relatividade das coisas.
Então, é assim:
– Porque é que eu, com trinta e tal anos de trabalho no pêlo, quadro médio estável de uma empresa estabilizada, vai para cima de 25 anos, aproximando-me inexoravelmente dos 60, me vejo constrangido a solicitar um empréstimo bancário – pouca coisa, diga-se… – para efectuar imprescindíveis obras em casa, do qual fico a pagar abomináveis, incontabilizáveis e incomensuráveis prestações até aos meus 65 anos de idade, quando a quantia de que eu necessitei e pela qual me humilhei perante um banco é ganha por semana (nalguns casos por dia) por um qualquer caramelo que dá uns chutos na bola, com mais ou menos jeito, e aos 20 anos de idade?
Invejas, dir-me-ão… Mas, ainda assim, que raio de mundo é este que congemina estas desequilibradas abominações?
Eu não vou ao futebol. Não é por nada. Só que os bilhetes são caros – lá está: relativamente caros…- face às prioridades que tenho na vida.

Mas ai de quem me venha dizer que um livro de € 15 ou € 20 é caro, perante o despautério do custo de um bilhete para assistir ao futebol, mesmo num clube (à) rasca! Ainda para mais, só para assistir. Ainda se fosse para jogar…
Mas a impagável emoção do momento, dir-me-ão… Lá está, outra vez: tudo é relativo. Sendo leitor desde que me conheço, livros houve que marcaram a sua presença na minha vida para sempre. Emocionalmente.
Do futebol apenas me ficou uma unha encravada durante alguns anos, por ter levado uma pantufada na chuteira, ainda para mais de um companheiro de equipa. Coisas da bola…
De um livro apetecido, há uma emoção renovada quando pegamos nele, de novo, ao fim de uma mão-cheia de anos. É um amigo que revemos quando nos revisita.
É verdade que, tal como a unha, também tenho alguns livros encravados. Mas isso será outra história…