Com a devida vénia e aplauso, subscrevendo integralmente o que fica dito, solidário nas preocupações como nos anseios, aqui deixo um artigo do professor José d’Encarnação, publicado no Jornal da Costa do Sol, em 28 de Agosto de 2008, a página 4b, activamente à espera de que esta terra tome um diferente rumo, onde ser português faça sentido:
NOTAS & COMENTÁRIOS
Era para os pobres… será?

Em nota distribuída à imprensa, os serviços da CMC informaram – a propósito da recente exposição da maqueta do hospital em construção nos terrenos da bateria de Alcabideche – que «o patrono do novo Hospital será José de Almeida, insigne personalidade médica que se destacou no campo da solidariedade e beneficência».
Pois foi: insigne, solidário, beneficente! E o que deu? Nada mais nada menos que os terrenos e o próprio imóvel (antigo Forte do Junqueiro), em que está instalado o Hospital Ortopédico que tem o seu nome! Atribuir ao novo hospital o mesmo patrono traz, naturalmente, água no bico!…
É que o Ministério da Saúde, seu proprietário, terá em mente desactivar aquela unidade hospitalar, até porque – imagine-se!… – no Plano Director Municipal ainda vigente e gizado ao tempo da maioria socialista na Câmara, aquele espaço está classificado como… de “desenvolvimento turístico”!…
Onde andariam as preclaras mentes do nosso concelho e, designadamente, de Carcavelos, para não se terem insurgido, então, face à – mais que provável – possibilidade de ali vir a ser implantado, em vez da actual unidade hospitalar de méritos consagrados, um hotel ou, quiçá, porque é sempre possível dar a volta ao texto e considerá-lo ‘de utilidade turística’, um condomínio de luxo?!… Aliás, não houve em qualquer sítio um terreno alienado a baixo custo para nele se instalar um hotel, o hotel foi demolido e nele vai surgir um condomínio de luxo?
Pois o senhor doutor morreu pobrezinho, dedicou a vida aos pobrezinhos e criou um hospital para eles. Mas… os tempos mudam, os pobres viram ricos e… um património singular do ponto de vista arquitectónico e funcional em prol das populações corre sério risco – se nós deixarmos – de vir a ser delícia de apenas alguns. Aliás, idêntico perigo ameaça (dizem-me) o edifício do Hospital no centro da nossa vila, propriedade do Ministério dos Assuntos Sociais.
Alguém, ligado a Carcavelos, ao saber desta bem possível eventualidade, sonhou para ali «um espaço museológico vivo, ligado à ‘coisa hospitalar’, com aprazíveis recantos de lazer e de cultura», pois «as infra-estruturas estão lá, o espaço é magnífico e tem História…». É tão bom sonhar, amigo Jorge!
J. d’E.

E se o professor e amigo me permite a ousadia de um apontamento mais, direi que o tal interesse ou desinteresse pela «coisa pública» é, afinal, o que de mais marcante nos distancia da Europa, onde estamos enraizados de corpo e alma, mas cujo florescimento alguns aprendizes de feiticeiro alcandorados ao poder tanto fazem para abastardar, com as monomanias dos campos de golfe e quejandas, em prol da única classe que, aparentemente, lhes merece respeito e atenções, vulgarmente denominada de «os ricaços».

O meu comentário será «radicalóide»… mas aguardo que a evidência dos factos o contrarie.