– Atleta português pró-olímpico, estagiando em Sirmione, Itália
(num claro exemplo de endereço deslocado…)
Fotografia gentilmente cedida pelo repórter A. Noronha
Será falta de oxigenação, talvez, esse mal que nos afecta nas Olimpíadas de Beijing…
(Também, que diabos, há mais de trinta anos que o governo chinês comunicou a actualização oficial do nome da sua capital e, por cá, a malta não atina nem por mais uma com o Beijing. Esta teimosia ou é uma manifestação de carácter à prova de bala ou é burrice, mesmo. Mais uma daquelas angústias existenciais em que o meu coração balança.)
Mas, voltando aos atletas, este problema de falta de motivação, ou de estímulo, ou de falência pontual, ou de verbalização infeliz prende-se, de certezinha absoluta, com aquele problema quase atávico de que falava António Sérgio, e que nos aflige desde a transição do século XVI para o século XVII, em que alguns mentores do espírito lusitano, guindados ao poder, acharam por bem cultivar a ideia de que os miolos apenas serviam para servir à mesa – estou a falar da célebre mioleira, claro, hoje também em desuso, hélas – receita, aliás, muito do agrado do tempo da «negra ditadura fascista» onde foi superiormente cultivada por esse extraordinário regime que se auto-intitulou «Estado Novo», e que manteve tal denominação mesmo quando era patente para todos que o único ingrediente novo que ele comportava, ultimamente, eram as tenras criancinhas do Ballet Rose…
Consubstancia-se esta doutrina assim a modos que num Ahlzeimer institucional, que se traduz naqueles diktats, do tipo: «aqui ninguém lhe paga para pensar» ou «as louras não pensam, existem» ou «para quê pensar se temos jornais desportivos?», etc., etc.
E, depois, é o que se vê – por mim falando, também, que já nem sei porque enveredei por esta conversa… A questão, portanto, pretende fazer-se centrar muito mais no que se diz do que no que se faz o que, convenhamos, em termos de competição desportiva, não será o mais avisado.
Certo é que as circunvoluções cerebrais, neste país, vão servindo, aparentemente, para a maioria dos cidadãos esperarem que desponte um produto chamado pêlo e cujo conjunto se convencionou chamar cabelo, o qual arranjado, mais ou menos, é comum denominar cabeleira. Assim como se fosse uma mão-cheia de barro onde se espetam arranjos florais, sem que se atine em dar-lhe um uso mais consentâneo.
E é isto o que se me oferece dizer acerca dos alegadamente fracos desempenhos verificados pelos portugueses nos jogos olímpicos de Beijing que, por cá, se chamam de Pequim. Na verdade, estávamos todos fartos de saber que, com a desmotivação que grassa pelo país fora, porque haviam de ser diferentes os profissionais-amadores do desporto?
Veja-se o empenho do responsável máximo da formação olímpica: depois de ter admoestado verbalmente a falta de brio de alguns atletas… fez o quê? Vá, digam lá!… Pois, muito coerentemente, aproveitou para anunciar que não se recandidatará à função, desgostoso que está pelos desempenhos verificados (fica-nos, pelo menos, essa ideia) – o que apenas pode servir, neste momento, para desmoralizar ainda mais um bocadinho aqueles que esperam pelo seu superior magistério. Ou seja, deu uma de falta de brio, ao abandonar o barco em plena tormenta. Vá lá a malta perceber isto. A verdade é que acaba por fazer escola, pois é bem sabido que os bons exemplos vêm de cima, não é?
E como sair deste ciclo vicioso (e, quiçá, viciado) sem ter de responsabilizar tão só os atletas, como naquela rábula da equipa de canoagem em que só um remava? Árdua, a solução.
Entretanto, o maior aplauso para todos aqueles ATLETAS DE ALTA COMPETIÇÃO que, independentemente da modalidade que abraçaram, se atrevem a sê-lo num país assim desgovernado como o nosso, tantas vezes arrostando com dificuldades que não lembrariam ao diabo!…
(Nota – texto reescrito. O original, entretanto corrigido, elaborado num portátil em transporte público, enfermava de diversos sobressaltos provocados pela dispersão e agitação natural do meio de transporte utilizado, ainda para mais sem ar condicionado.)