O que mais me incomoda, nesta «crise anunciada» em que vamos vivendo, é a sensação profunda de que estou a ser vítima de um colossal barrete.

Entendamo-nos: se a crise chegasse, séria, honesta, cara ao sol e ao vento, anunciando: «- Meus senhores, cheguei. Não queria vir, mas lá teve de ser. Isto está mau para todos e tal, vamos tentar levar a coisa da melhor forma possível… até que eu possa ir embora e todos vocês respirem mais aliviados», isso, sim, seria uma crise a sério.Mas não. A crise chega anunciada por terceiros, quase sempre economistas, prevista e previsível a meses (quando não a dias, que jamais a anos) de distância. Instala-se rodeada de mordomias e aconchegos, propiciados exactamente por aqueles que mais deviam zelar para que os seus efeitos menos se fizessem sentir: os governos e os seus agentes tentaculares.

Constâncio desperta, de tempos a tempos, do seu sono de vestal e, analisadas as vísceras do povo, instrói-nos sobre a penosidade dos dias e as cem maneiras de cozinhar o «tem-de-ser». Condimentos restritos da sua pindérica cozinha: despedimentos, diminuições salariais, diminuições salariais e despedimentos.
Os governos, de que Sócrates é só mais um – e do mesmo, dir-se-ia, ainda que lhe reconheçam maior obstinação -, vão dizendo coisas profundíssimas como: «- Aumentar os salários? Nunca! Isso iria desenvolver uma espiral inflaccionária!».
Muito bem, Então baixem-nos assumidamente, porra, que assim é que não chegamos a lado nenhum. Nem à bengalada, que tantos merecem.
Os Mexias aumentam-se cento e tal por cento e dizem-se confortáveis com isso. Claro! Quem não estaria? E merecem-no? Se sim, vamos a isso. Mas aumentem-se, na mesma óptica, todos os cidadãos num esquema de meritocracia… Ou, então, degredem-se para uma qualquer enxovia, fétida e pútrida, se se provar embuste, falácia e dolo.
Ninguém explica essa treta dos combustíveis aumentarem, pagos em dólares, quando nós nos regulamos por euros, que deixaram o dólar a perder de vista há vários anos. E ele é o «stocking» e outras «tretings», enquanto o estado cobra o bom e o bonito por cada litro de combustível vendido.
Baixá-lo? Claro que não, que só favoreceria o aumento do consumo e lá iria o ambiente de pantanas. Então, vamos para as alternativas! Que não, que também não pode ser, pelos interesses instituídos… Veja-se o que se passou com a autarquia da Ericeira.
E o governo arrecada menos porque a malta compra menos – outra tanga, pois o que entra, entra sem esforço e conta!
Depois, vem uma taxa «Robin dos Bosques», de que qualquer Zé do Telhado se envergonharia, com flecha de ponta romba e arco sem corda, que é outro embuste, outra falácia, outro dolo.
E o País esvai-se, foge para o estrangeiro, como sempre, – sim, na Finlândia estão a construir centrais nucleares, ‘bora ver o que será isso… -, o País reforma-se e vai para baixo da ponte passar férias, o País constitui-se em gangs em defesa de muito particulares interesses, as polícias fazem greve de zelo e os agentes do poder – alguns, só alguns, que a maioria é demasiado séria para isso, como todos sabemos – alberga-se em mansões senhoriais que fariam empalidecer de inveja a antiga nobreza aristocrática.
Mas o Carlos Queirós regressou e outro ciclo se irá iniciar nas nossas vidas. A Ínclita Geração deverá estar mesmo a considerar ressuscitar para alinhar neste novo alento que à lusa gente faltava.