… porque o dia do pai traz a Primavera e por com ela se remoçar o alento da poesia…

AO MEU VELHO PAI
“Estas páginas foram escritas sobre a água” – Jorge Sousa Braga

singro em ondas
que estão além da saudade
travessias de outro mar azul profundo
onde tanta falta faz o teu estai
drapejam velas ‘inda agora prenhes
pela fúria tormentosa destes ventos
em que vales tu de leme
velho pai

e respiravas como as ondas
e bramias
e lutavas como elas e sofrias
e de repente
a distância era tão perto

hoje só por amor é que te sei
do meu tempo leve brisa te baniu
à cabeceira das minhas ilusões
junto à foto de um menino que cresceu
tenho apenas esse muito velho livro
com que abrias as janelas para a vida

e no mar tão estranho em que fiquei
sem as velas que me façam estar contigo
é agora ele o meu melhor amigo

e um tempo tão sem mágoas corre lento
como correm já de mim estas palavras
que eu lanço para ti por sobre as águas
do mar todo em que te foste transformando

pois é
meu velho pai
o mundo avança
mas eu sei que nalgum tempo e algum lugar
longe da mágoa mas tão próximo do mar
virás tu
como eu
ao rés da água
onde me sei sempre outra vez feito criança.

– poema de Jorge Castro