Para além do acervo ideológico que a cada um enforma – algo que comporta tanto de consciente como de inconsciente, enformando-nos mesmo assim – dois pilares sustentam, no concerto do mundo, a arte superior de vivermos em comum: o respeito pela individualidade do outro e o depósito de confiança, ainda que circunstancial e limitado, nesse outro.

Se o respeito pode ir tão longe em perversidade que se confunde com o medo, a confiança pode ser tão limitada em si mesma que se confunde com a hipocrisia. Cada um que fale por si sobre a matéria, sendo certo que, nos limites, os conceitos se distorcem…

Para mim, tenho que um justo equilíbrio é que nos sustenta e, sem ele a relação entre as partes não tem condições de subsistir. Por vezes, mesmo naquele limiar que se chama o benefício da dúvida… Mas de precipitação dramática quanto baste quando essa dúvida deixa de existir.

Ora, em Portugal, a relação entre governantes e governados parece-me ferida de morte nesta relação bilateral: porque os governantes não respeitam os governados; porque os governados não confiam nos governantes. E nenhuma das partes tem dúvidas de tal.

Curiosa e perturbantemente, a relação poderia inverter-se nos seus termos que não corresponderia a uma menor verdade. Aqui chegados, a resultante é a inoperância total.

Os termos da maioria absoluta a que se alcandorou José Sócrates por voto popular estão, pois, subvertidos, por quebra sistemática dos compromissos eleitorais – esses, sim, que lhe deram a maioria dos votos.

Assim sendo, aqui se declara que, na minha muito humilde opinião, Sócrates não nos levará a lado nenhum e cada dia que passe presidindo aos destinos do país se revelará como pura perda.

Lamentando, assim o penso. E mal se entende que os poderes estabelecidos, com base nesta mesma fundamentação, lhe amparem o poleiro.