ensino de burka? ensino de borco? ensino burocra?…

Garanto-vos! A imagem abaixo apresenta um espécime de pessoal docente lusitano contemporâneo, obrigado a estar tanto tempo no ambiente soturno da escola onde faz reuniões, trata de papeladas e, nos tempos livres, dá aulas, que facilmente se ofusca quando tem uma nesga de oportunidade para ver a luz do dia…

felizmente há luar… e vaidades

Tenho andado perturbado, vai para cima de uma semana, porque estou sem saber por que cargas de água é que um tal Carlos Paredes tem andado baldado aos treinos do Sporting, em Alcochete. Perturbado, mais na perspectiva de tentar perceber o que é que eu tenho a ver com isso, para tanto jornalista andar nesse afã de perder horas e de mas fazer perder a mim com tão momentosa notícia.
Claro que imagino, na minha supina ignorância das coisas dos futebóis, que este Carlos Paredes nada tenha a haver daquele outro que nos delicia, recriando imaginários em tons ardentes de guitarra portuguesa e de quem tão poucos jornalistas falam…

Aí, a redenção: um amigo presenteia-me com mimo natalício, que me envaidece. E conta-se em duas penadas: tendo participado na organização de uma caminhada pela Serra da Arrábida, durante o repouso dos caminheiros em pleno areal, frente ao mar e em exercício de descontracção, promoveu esse meu amigo uma leitura colectiva do meu livro Sopa de Pedras, com agrado geral dos circunstantes, segundo relato que me fez chegar.

Estou vaidoso, claro. E embevecido, também. E quem nunca pecou, antes de lapidar alguém com fúria desconexa… que vá atirar pedras ao mar, que isso passa-lhe!

– fotos de
Maximiano Miguel


ontem, hoje e amanhã… ou como adorar os doces deuses caseiros

Não há muito tempo, abrir uma escola era motivo de orgulho nacional. Hoje, há quem se orgulhe e vanglorie de a fechar.
Não há muito tempo, preocupávamo-nos com a dificuldade em promover a saúde ao alcance de todos. Hoje, há quem contabilize os mortos por falta de assistência como meros acidentes de percurso.
Não há muito tempo, o público e o privado eram zonas eticamente imiscíveis. Hoje, há quem os considere parceiros de um swing deliberadamente obsceno e consensualmente apetecível.
Não há muito tempo, a justiça social era conceito que passava pela justa remuneração do trabalho ou da luta por esse objectivo. Hoje, há quem considere que um gestor pode auferir balúrdios pela ‘dignidade’ da sua função – que, na generalidade, se traduz em malbaratar dinheiros públicos e promover alucinados lucros privados – enquanto ao ‘colaborador’ (termo cretinóide e embusteiro que esses gestores da treta aplicam a quem trabalha) lhe basta sobreviver no limiar da indigência.
É, aliás, curioso e formativo ouvir entendidos de meia-tigela assegurarem que no ‘mercado livre do trabalho’, quando um trabalhador perde um emprego, ao mudar para outro (milagre, desde logo!) é natural que vá auferir de um salário inferior. Sempre vai começar algo novo, sem experiência, e tal…
O mesmo entendido da mesma meia-tigela considera, da mesma forma, natural que, sempre que um gestor rode de um poleiro para outro, vá sempre ganhando um pouco mais… quiçá por uma ordem divina das coisas e por uma lógica transcendente, que distingue o mundo e o divide com a aplicação de deuses de conveniência em função dos cargos desempenhados.
Equívocos, porventura. Embustes, seguramente. Eu, cá por mim, assisto à beleza constante de um pôr-do-sol que não há muito tempo era assim belo e que, hoje, continua a sê-lo… E, enfim, com toda a presunção que a água-benta me permita, não me tenho muito na conta de reaccionário, mas, humildemente, qual soldado Chveik do Jaroslav Hasek, aqui me deixo à avaliação de algum entendido…

– foto de Jorge Castro