porquê um poema
quando tudo vem das mãos
nesse arado pena-espada de teimar em semear?
será das penas de ser
ou tão apenas de estar?
ou é o leito de penas onde repousa o destino?
um poema é um imperfeito
um jeito meio sem jeito que surge em olhar felino
um jingar de andar varino numa candura de amar
mas é vento no sobredo
percorre campos de medo em cenas de velho enredo
que não deixam de crescer
nuvem de grossa procela
enchendo de prenhe a vela no incerto do apuro
da nau sem leme que somos
um poema não tem donos – é o pão do que não temos
voo apontado ao futuro
do caminhar que sonhamos
é uma agreste elegância
rosa de espinho acerado ferindo de bela o grito
colhendo em sangue a fragrância
um poema faz-se mito
de tanto o quanto acredito entre azuis de céu e mar
sem ter longe nem distância
é uma esfera armilar
onde os anéis que nos guiam se limitam no infinito
de um qualquer navegar.