Meu Portugal!…
Dizia, há pouco, um cidadão ao ser entrevistado para a tv enqunto testemunha de um assalto à mão armada à dependência de um banco, que “felizmente não houve violência…”.
Entende-se o que o homem quereria dizer. Mas estranha-se, ao mesmo tempo, toda esta confusão de conceitos que anda no ar. Para aquele cidadão, bem composto e engravatado, um assalto à mão armada, porventura porque não meteu derramamento de sangue ou pancadaria grossa, já não é uma violência. Apenas uma aventura, quiçá um devaneio, um estremecimento no quotidiano delirante em que se sobrevive.
Como não é violência o governo não se ter feito representar nas celebrações do centenário do nascimento de Miguel Torga.
Torga? Quem é o gajo? Pertence a algum lobby conhecido? É pedreiro livre? Está na Obra? Tem ligações à construção civil? Ou aos futebóis? É teu primo?…
Ah, é só escritor? E já morreu? Eh, pá, então passou à História!… Aqui a malta preocupada com coisas sérias e vêm estes tipos falar de um gajo morto e enterrado.
Ainda para mais, um chato. Um resmungão. Um daqueles que não gosta de vir comer à mão do dono e passa a vida a ter opiniões!
E era médico? Vais ver, algum joão-semana, a correr as capelinhas dos pobrezinhos… E isso é o quê em termos de economia de mercado e de escala e tal? Ora, deixem-se lá de brincar com coisas sérias!
Pois é assim… por que cargas de água haveria o governo eleito pelo bom povo português homenagear um chato de um subversivo, um tipo lá das estevas e p’ra trás das serras? Ora, adeus…