Artur Silva, Professor de Filosofia ao longo de mais de trinta anos, morreu a trabalhar, na Escola Secundária Alberto Sampaio, em Braga, segundo respigo de um artigo do Correio da Manhã, de 03 de Julho de 2007.

Morreu, segundo o artigo, padecendo de um cancro na garganta e após ”amigdalectomia esquerda e laringectomia total, com esvaziamento gangliconar cervical funcional bilateral e traqueostomia permanente”, aos 60 anos de idade.

Após a intervenção acima e com ausência total e irrecuperável da voz, o Professor pediu a aposentação. Avaliado o seu pedido por Junta Médica, em 18 de Abril de 2006, sem a presença do paciente, terá sido emitido o veredicto de que “nada o impedia de exercer as suas funções”, tendo-lhe sido recusada a aposentação.

É tão lastimável, tão desumana, tão atroz, tão repugnante esta história que, sendo verdadeira e a não haver formais e consistentes desmentidos oficiais, será imperioso, no mínimo, que sejam divulgados os nomes, para opróbio público, dos elementos que constituíram aquela Junta.

Para que a culpa morra solteira à mesma, como é hábito neste país empastelado em compadrios, mas para que me seja a mim, cidadão, ao menos permitido mudar de passeio ao cruzar com algum dos elementos constituintes de tão extravagante Junta, para não ser atingido pela pestilência que, seguramente, de tais personagens se evola!


Sim, porque estas atitudes têm caras. Não precisou Hitler de se deslocar aos campos de concentração para que as câmaras de gás funcionassem em pleno. Lá tinha os seus títeres. E a situação descrita, a ser verdade o que se divulga, assume foros de nazismo.

Haja limites claros, nas sociedades ditas democráticas, para o abanar das caudas ao dono por parte de sabujos deste quilate!

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Deixaria, ainda, à consideração do senhor Presidente da República, também ele Professor, que honrasse a memória deste seu Colega, agraciando-o com a Ordem da Liberdade, nas próximas comemorações do Dia de Portugal, como gesto de elementar ressarcimento por tão gravosa ofensa que lhe foi feita, que a todos, enquanto nação, nos envergonha. E, como é sabido, não apenas a este…

Notícia em 04 de Julho de 2007:

A directora da DREN veio à liça (ver jornal Público desta data) assegurar que “a DREN garantiu todas as condições ao professor…”. À brutalidade soma-se a hipocrisia.

Obviamente que os Colegas do Professor, com o bom senso e a solidariedade de “companheiros de armas”, lhe terão facilitado a vida, por razões de elementar humanidade, após a obrigação de retoma das aulas. Mas a DREN não terá sido aí perdida nem achada!

O que fará, então, correr a senhora Directora, metendo-se onde ninguém a chamou? Quererá “amortecer” o impacto negativo da tal Junta, ainda que não me pareça que esse organismo esteja sob a sua estrita alçada? Estranho…

Ou pretende apenas, com um afã digno de registo, branquear a cadeia de iniquidades, assumindo-se como parte do poder instituído e, por isso, obrigada a definir (e defender) o seu lado da barricada?

Tanta falta de jeito! Tanta desumanidade! Tanto desviver! Tanto culto da mediocridade!

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Dos comentários lidos no Público acerca da situação que se descreve, permito-me destacar o testemunho de uma aluna do Professor Artur Silva, devidamente identificada, apenas como peça de relevância para sabermos todos de que “material humano” estamos a falar:

Por Márcia Oliveira, Braga

Só me posso sentir indignada para além de triste com tudo isto. Conheci este professor, no 10º ano foi meu professor de Filosofia, já lá vão 14 anos. Era uma excelente pessoa e um pedagogo como há poucos, gostava da matéria que ensinava e sabia fazer-nos apreender com gosto, para além de nunca nos recusar uma palavra de incentivo. Nessa altura, e já depois de deixar de ser nosso professor no 11º ano, chegou a dar-nos aulas gratuitamente, fora do horário de trabalho dele, quando nós já nem sequer éramos alunos dele, apenas porque nós estávamos com receio da Prova Global (foi em época de Reforma Educativa em que tudo era novo e causava vários receios nos estudantes) e por isso ele aceitou ajudar-nos, deu-nos algumas “aulas de preparação” que serviram sobretudo de reforço positivo para a prova que íamos fazer. Ninguém lhe pagou, ninguém o poderia obrigar a fazer isso, já nem sequer era nosso professor nesse ano, mas fez, simplesmente porque se importava. Não fugiu ao trabalho, bem pelo contrário nunca “faltou” aos seus alunos e foi tratado miseravelmente pelas entidades que tutelavam a sua actividade, como se se tratasse de alguém que estava a querer fugir mais cedo ao trabalho! Vergonha é o que sinto pelo país que temos e um receio profundo de algum dia poder ser atendida em caso de emergência médica pelos “profissionais” que faziam parte dessa Junta Médica… onde está o respeito pela pessoa humana que dever pautar a actividade de qualquer profissional e neste caso dos médicos? E a DREN fez tudo o que podia? Fez o quê? Obrigou-o a regressar ao trabalho mesmo não estando em condições de o fazer? É isso “tudo” que pode fazer por alguém que foi tão injustamente tratado depois de tudo o que fez enquanto podia exercer saudavelmente a sua actividade?