– a propósito da obrigatoriedade de declarar ao fisco qualquer importância recebida por dádiva, a partir de 500 €, aproveitando para fazer uma homenagem aos meus amigos das Caldas da Rainha, onde sou sempre tão bem recebido…

em dia de romaria
– que os há não se duvide –
fui-me às Caldas em romagem
longa a lide e a viagem
de gasolina tão cara
e de tão cara portagem

fui-me às Caldas em festança
na esperança de encontrar
mealheiro de encantar
e da mais bela faiança
quis um porquinho tão belo
rosadinho como gostas
e rasgado um buraquinho
no alto das suas costas
porque o tempo é de poupança
e cêntimo poupadinho
quase nada – poucochinho
vendo bem enche-lhe a pança

grão a grão lá foi caindo
dando peso e aconchego
ao porco no seu sossego
a fazer-se um bicho lindo

mas não é que estando cheio
imaginando o petisco
chega-se de lá o fisco
e quer-me o porco por meio?
e – pior – quer que o bichinho
declare e firme e jure
qual o valor que se apure
preenchendo um papelinho

pobre bicho – vejam lá
forçado a dizer que dá
o que de mim recebeu
eu bem digo que não deu
mas quem me ouvirá de lá?
lá me vai inchando o bicho
amealhando um tesouro
receando eu o estouro
que me faça o porco em lixo

quem diria da agonia
neste horizonte sem céu
em que na tal romaria
um cidadão se meteu…

– poema de Jorge Castro
Nota – se alguém souber de quem é a autoria
daquele exaurido animalzinho acima,
por favor diga, para que a possa divulgar
E não é que encontrei eco, não menos prazenteiro e airoso, na minha amiga L. L., que logo me remeteu este mimo:
Pois eu quando me prantei
Por ideia de uma filha
A juntar economias
Outro mealheiro não achei
(e tanto que procurei… )
Do que uma curvilínea bilha
Que também ela foi inchando
Um pouquinho todos os dias.

Tanto sacrifício! Tanta abnegação!
Para agora assim sem querer
Receber a informação
De que um Ministro qualquer
Sem a minha autorização
Vai-me à bilha, se puder…

Isso é o que vamos ver!

Já estou mais que habituada
A que por tudo e por nada
Os Ladrões “metam a mão”.
Mesmo sem me aperceber…
Mas a bilha… é sagrada!
Esteja ela inflada ou não
Na minha bilha poupada
Só mexe quem eu quiser

Espero que encontres graça
Nesta pequena partilha
E que por causa de simples bilha
Não me tomes por devassa…