cartaz de Alexandre Castro
Amanhã é dia de cantar as Janeiras na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana, em mais uma sessão de Noites Com Poemas, lá pelas 22 horas. A alguns dos que por aqui passam e de que sei a vizinhança na geografia e na poesia convido a aparecerem. Por lá se dizem os poemas que nos confortam ou inquietam… E amanhã cantar-se-á. Até amanhã, pois.

Outra coisa:
Discute-se o quê para ser brevemente referendado? Quais são os caminhos de “modernidade” trilhados, neste recanto marítimo e ameno, que nos acuam a referendar actos de (boa ou má) consciência do nosso semelhante?

Por que estranhas razões, no dealbar do século XXI, o bicho-homem se mantém tão inseguro de si próprio e, em simultâneo – porventura por isso mesmo – sente tanta necessidade de controlar a consciência alheia, como se tal fosse desejável ou viável, sequer?

Mas se não for por mais nada para além do combate a essa tentativa canhestra, de prepotência frustrada, eivada de tiques totalitários, daqueles que não desistem de ser mentores de consciências alheias e que defendem o NÃO, eu voto no SIM.

Sim, porque o NÃO não deixa liberdade de escolha alguma a quem tenha falta de meios. Não é qualquer “tia” (ou “tio”) mais ou menos beata, mais ou menos remediada, mais ou menos instruída, mais ou menos culta, que consegue vestir a pele de quem atravessou uma vida de carências e tem pela frente outra vida de carências a oferecer aos seus filhos.

Num país em que, curiosamente e apesar de atávicos atrasos, o bom senso popular encara com dramático fatalismo o “desmancho”, mas sem lançar anátemas sociais, ou hipócritas pruridos éticos àquelas que a ele desgraçadamente se sintam compelidas a recorrer, a seita inflamada das bentas almas parece querer atiçar velhas e relhas fogueiras de inquisição… São patéticas, hipócritas e sinistras estas almas.

Não é um caso da sua consciência. Se a consciência (e algum desafogo) delas as impede de tal acto, muito bem, nada a dizer. É a opção delas, seja qual for a lei. E ninguém as contrariará.

Não será esse o caso das outras. Daquelas outras cuja consciência lhes dita o recurso à interrupção de uma gravidez indesejada. Também aqui há o primado da consciência individual – que, convém não esquecer, começa e acaba na mulher. A essas, os apoiantes do NÃO querem coarctar o direito de escolha, como presumíveis detentores de uma verdade que, afinal, é apenas a deles e só a eles serve.

E quando alguém se arvora em guardião da consciência alheia, esse mata o livre arbítrio. Toda a restante argumentação não passa de meras questões técnicas – de medicina ou de direito – mas seguramente de saúde pública, pois é de saúde pública que se trata quando nos propomos criar condições de acesso a cuidados de saúde a quem não tem acesso a eles. De resto, não me parece que esteja mais alguma coisa em discussão, para além disto.

Efectivamente, também por aqui passa a Liberdade. Eu votarei no SIM.