Talvez por este Verão tardio a que a convenção chama de Outono e porque, afinal, ainda há tanta folhgem no (esparso) arvoredo da cidade, lembrei-me de David Mourão-Ferreira…
vês o mar ondulando nas varinas
nas ruelas de que a Lisboa se eiva
e por vezes sabes dos seios colinas
gotejantes ramagens de Outono e seiva
trazes vidas que nas redes já se enredam
nesses limos colhidos em verde-mar
fazes hinos que nalgum leito segredam
inconstâncias e perfídias do amar
e os poemas – um a um de cada vez
são um fogo ao rés do mar tecendo malhas
no areal de luar feito e de nudez
cruzam voos de outra paz contra as muralhas
na vertigem do amor que nos deixaste
nessa alma tão plangente em cada ausência
nesse cada verso teu que nos cantaste
a mulher é o outro eu de calma urgência
e cuidava eu há pouco ainda ouvir
calmarias da tua voz na luz difusa
da lanterna que dá ao beco um fremir
de ausências e saudades de alma lusa.
– poema de Jorge Castro