Por terras de Miranda do Douro


no ar ressoam ribombos
caixas de guerra e os bombos dos regatos na invernia
e as gaitas de foles ecoam
entre um lhaço da gaitada no xisto da penedia
são festas do solstício
de caretos e alta berra
e cada dia é um início de bogalhos o bulício
mãos mergulhadas na terra

saia a chouriça com bulha
ou saia o bulho com cascas
que por lá o céu mais brilha entre o dourado das ervas
contra as vascas da agonia

junto ao folar da cor de ouro
pelas arribas do Douro
tamborilando na posta posta à mesa numa encosta
mais brava que bravo touro
ao céu se lançam arribas
transmontanas sem quartel
contra o fel crescem mais vivas
mais agrestes e sentidas bordadas a vinho e mel

e sem alma que o derrote
arre burro vai ligeiro
espevita-me esse trote sem arreios nem arnês
que ali vai um pauliteiro
que é português por inteiro
mas que fala mirandês.

foto e poema de Jorge Castro