Passei um excelente período de férias, rodeado de verde por todos os lados.
Por isso só agora tropecei com a saga da “polémica” – perdoem-me as aspas, mas a paciência é pouca; coisas da idade, claro… – criada pelas declarações que o crítico Eduardo Cintra Torres, na páginas do Público, dirigiu à Direcção de “Informação” – lá estão as malvadas aspas, outra vez… – da RTP, a propósito da alegada atitude de subserviência desta relativamente ao governo de Sócrates, na questão dos incêndios e com especial relevância para o grande incêndio que destruiu parte significativa do Gerês.
Face à acusação do crítico – que pela sua experiência no ramo, devo presumir que, ao citar “fontes” esclarecedoras e sabendo o vespeiro em que Portugal está atolado, sabia do que estava a falar e no que se estava a meter – logo irrompeu um coro de bonzos virginais (da RTP, claro, mas não só), com suposta dignidade violada, no aqui d’el-rei costumeiro de quem, brutalizado por tão extremo acto, jamais conhecerá a felicidade do matrimónio, por previsível repúdio dos seus pares e da sociedade em geral.
E, então, sem mais aquela, intentam de imediato lavar a honra ofendida com um processo em tribunal!…
Sabe quem me conhece que nem me movem especiais razões de simpatia pessoal por Eduardo Cintra Torres, o que não me impede, de todo, de em diversíssimas circunstâncias partilhar das suas opiniões e de aplaudir o seu desassombro analítico.
Dito isto, o busílis: o que é que tem de tão grave a acusação de Cintra Torres? Pior: o que é que contém de tão original que não o saibamos todos já, cá pelo burgo, matéria que prodigaliza constante falatório e anedotário nos meios mais díspares do diz-que-diz nacional?
O(s) governo(s) instrumentaliza(m) a RTP, a tal do serviço público? Ai, não me digam!!!… Será verdade??? E as demais empresas públicas e de serviços, mesmo as mais ou menos privadas? Ai, também??? Parece impossível!…
Ressalta, então, para mim, da referida “polémica” apenas a hipocrisia bajuladora dos tais bonzos que, presumivelmente, de tão aconchegados pelo poder, nem carecem de receber deste instrução precisa sobre esta ou qualquer outra matéria, pois eles lá estão exactamente para escudarem quem os mima e protege. Em boa verdade, não se escolhe gente desta à toa…
Por outro lado, ouvir da boca de um “jornalista” que anseia por assistir a um seu colega de ofício revelar, obrigado em tribunal, as suas fontes, é de uma miséria moral e argumentativa que causa pena, antes do asco.
Asco maior, por se saber o que significa “entalar” um cidadão com processos intermináveis nos tribunais a que temos direito.
Se o que Eduardo Cintra Torres revela não é verdade, então de que está à espera a Direcção de “Informação” para promover, nesse meio soberano que é a RTP, um cabal desmentido, trazendo ao ecrã um trabalho de fundo e objectivo sobre a catástrofe (leia-se pouca vergonha) nacional dos incêndios?
Isso é que seria um grande desmentido, não acham? E, a bem da objectividade, até o próprio Sócrates, nesse programa, poderia tentar esclarecer, por exemplo, ao vivo e a cores, porque é que as matas e florestas à guarda do governo não são limpas, enquanto os particulares sofrem tratos de polé se o não fazem nas sua propriedades privadas.
E assim destruiriam a tese de Eduardo Cintra Torres. Fácil, não é? Tribunais para quê, ó bonzos?… Queixinhas, é o que vocês são!