Hoje assisti a um ex-govenante português, na casa dos quarenta, actual gestor de topo de uma grande empresa – eles são tantos… – saindo da sua viatura “altamente”, onde ocupava o lugar de pendura.

No mesmo acto, o motorista – ou deverei chamar-lhe chófer? – depois de ter estacionado em segunda fila numa constrangida rua de Lisboa, saiu, pressuroso, do seu lugar de condução e em corridinha rápida em redor da viatura, pelas traseiras da mesma, abriu a porta traseira do lado direito, de onde extraiu um impecável casaco, que vestiu ao honorável que, entretanto, saíra da mesma viatura e esperava, impávido e poderoso, ainda que em promíscuas mangas de camisa, o desvelo do funcionário. Três pancadinhas nos ombros asseguraram estar a vestimenta bem assente.

Casaquinho vestido, o distinto hominídeo, lá seguiu o seu caminho de mui seguramente relevantes afazeres.

Seriam umas 14 horas e picos, do dia 26 de Junho de 2006 e eu, cretinóide impenitente, mais uma mão cheia de testemunhas incrédulas, pasmámos de tal forma que ainda me doem os maxilares!… Houve, até, quem tivesse de recorrer a Victan no acto, passe a publicidade, para tentar contrariar a eminência do enfarte.

Duas questões se me impõem:

– Aquilo serão ordens dadas ou capachismo assumido? É que há atitudes que o ser humano assume e que só a sua castração mental impõe.

Mas há, também – e tal não é despiciendo – quem se sinta bem na pele de beneficiado pela sabujice.

Verdade que, naquele retrato, ambos os bonecos saem desfocados. Um, que faz. Outro, que deixa que lhe façam. Pior, se o que se faz foi imposto, o que tenho por mais certo.

2006? Portugal e o futuro? Qual quê, quando quem preside aos destinos deste país tem de si a perspectiva e o alcance de um soba em reino de cafres?

Nota angustiada de rodapé: como sobreviverão estes tipos a uma urgência fisiológica sem chófer à mão de semear?