Olhando para os recentes estádios, para as benesses incontáveis dos arregimentados ao poder, para as declarações de lucros fabulosos de exercício de grandes empresas em tempos de crise, eu nem me acredito, nem quero acreditar!
Sabem porque vai por aí essa fúria desalmada de alargamento em auto-estradas? Segundo me dizem, é apenas porque uma directiva comunitária impedirá a cobrança de portagens em vias com menos de três faixas!!! Não porque a circulação o justifique. Não porque a calamidade das mortes na estrada o torne imperioso. Não. Apenas porque uma directiva comunitária está em vias de acabar com mais uma mama!
E o despautério de arrasamento de caríssimos viadutos e pontes, construídos há menos de 10 anos um pouco por todo o país, é justificado por esta sanha avassaladora de nos entrarem pelos bolsos dentro!
Quantas escolas, quantos professores, quantos hospitais, quantos médicos nasceriam de cada ponte agora arrasada?
Imperioso encerrar uma escola com menos de dez alunos? Nem que fosse apenas um! Quem se arroga o direito de contabilizar os custos do analfabetismo, dessa viciosa “interioridade”, que barra os horizontes – inconstitucionalmente, dir-se-ia – àquele petiz cujos pais se arriscaram numa aventura de resistência longe do mar?
E como podemos aceitar que um parto, em Badajoz, seja 1.000 (!) Euros mais barato do que em Elvas? E que isso seja razão para encerrar a unidade de ginecologia em Elvas, contratualizando essa prestação de serviços em Badajoz, e não – numa lógica muito mais clara e transparente – apurar as razões profundas dessa disparidade no preço e responsabilizar os seus fautores?
Enfim, por este caminho de subserviências, de cerviz curvada, ainda havemos de marchar para o açougue destinado ao abate dos velhos (que nós seremos) por empecilhos óbvios ao “progresso” e à “travagem da derrapagem do déficit”, quem sabe sob o libelo de entraves à modernidade.
Felizmente – e nem tudo é negativo – um secretário de estado anunciou o possível alargamento do porto de Portimão, para que as viaturas do próximo Lisboa-Dakkar possam entrar na barra sem problemas e para que não demandem as “imprescindíveis” viaturas desportivas à vizinha Espanha… O pior é se eles, os Espanhóis, conseguem “cozinhar” por lá um porto mais em conta, o que nem será difícil… E lá se nos desarvora o rali para Badajoz!
Tanta, tanta porcaria! Mas como é que ainda conseguimos respirar?
Quando o sr. ministro da saúde pergunta, demagógica e artificiosamente, porque é que, se as ricas vão ter os filhos a Badajoz, não hão-de as pobres ter o mesmo direito… o que esse sr. ministro oculta é que o que está em causa não é tanto a ida a Badajoz, mas muito mais o direito de opção que, assim, mais uma vez ele sonegará às tais pobres, a quem acua para terras de Espanha, encerrando o que, em Portugal, está afinal à sua responsabilidade e que, manifestamente desiste de saber gerir.