Este é um exercício de cidadania de que sou autor e que me é sugerido pelos dias descoloridos em que (mal) vivemos:
entre fragas e muralhas percorro os dias a fio
de pedras firmes
cascalhos
se faz de gumes o dia
e há uma vontade de ser a mão que lança a pedrada
contra a vidraça que espelha a face da vilania
contra a mordaça que grassa
entre a angústia e a agonia
contra esta mágoa que oprime
contra a doce hipocrisia
ah ser a pedra que quebra as dores da melancolia
neste país de mortalhas
nestes olhares de fadiga
nestes campos sem batalhas
neste desviver que obriga a ser pária e a ser canalha
dentro da própria camisa

entre fragas e muralhas percorro os dias a fio
ah minha mãe dá-me alento
ah meu pai que tenho frio
contra medos e opressões
contra o cinismo que avança
no dia-a-dia afogado entre lodos e aflições
ah como aquece por dentro um punho cerrado e duro
feito pedra que se lança
à procura do futuro

entre fragas e muralhas percorro os dias a fio
à procura do lugar onde se firma a raiz
do ser que sou
e também daquele outro em que me fiz
na busca de uma verdade que seja a minha matriz
que me grite uma vontade
onde sinta o meu país!

– Jorge Castro

De um poeta para outro, com o mundo todo pelo meio, por entre palavras e afectos, por lutas quantas vezes desencontradas mas convergentes, eu voto em Manuel Alegre.